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Como serão os voos para as novas gerações?
Os aviões terão cabines mais confortáveis, janelas maiores e iluminação moderna. A inovação aeroespacial também inclui aeroportos inteligentes e embarques cada vez mais self service, entre outros avanços da tecnologia de ponta.

“Assim na terra como no céu”. Bem que este poderia ser o lema da aviação moderna. Tal qual almas gêmeas, é impossível imaginar a evolução tecnológica das aeronaves sem o equivalente desenvolvimento de aeroportos inteligentes para atendê-las de forma adequada.

Como harmonizar esta simbiose operacional entre aviões e infraestrutura aeroportuária – eis o tema que domina as mentes mais argutas da fascinante indústria da navegação aérea. Estes profissionais estão neste instante redesenhando a aviação do futuro. A situação lembra o sistema solar, onde todos os planetas gravitam em torno de um Astro Maior, que neste caso atende pelo nome de Passageiro.

“A inovação aeroespacial se realiza em cinco frentes: aeroportos inteligentes, passageiros digitais, aviões conectados, eficiência operacional e aeronaves inteligentes”, resume Mauro Pontes, Vice-Presidente da sucursal brasileira da SITA, empresa global de tecnologia de informação direcionada ao transporte aéreo.

“A principal tendência da aviação é a busca de tecnologias que possam melhorar a eficiência energética dos aviões. Mesmo com o petróleo com preços bastante baixos, há compromissos internacionais assumidos para limitar as emissões de carbono”, explica o consultor Adalberto Febeliano. “Deve-se esperar, no curto prazo, a entrada em operação de novos motores (como já estamos vendo no A320Neo, no Boeing 737-X e no E190-E2). No médio prazo, teremos  melhorias aerodinâmicas nos aviões, que talvez levem a novas configurações, bastante diferentes do tubo-e-asas a que estamos acostumados”, prevê Febeliano.

É impossível abordar todos os elos da cadeia de valor que está redesenhando a indústria aeroespacial, dada a sua complexidade e diversificação. Por isto, segue-se uma amostra, através de quadro geral da evolução sob a visão de alguns dos principais players deste mercado.

A exemplos das concorrentes, a centenária Boeing, maior construtora de aviões do mundo, continua em sua missão de “interligar  economias mundiais, aproximar as pessoas, e tornar o mundo mais acessível do que nunca”, só que agora com uma responsabilidade ecológica adicional: buscar maior eficiência energética. As novas gerações de aeronaves visam melhorar o desempenho com menor consumo de combustível e emissões de CO2. Nesta equação dominante, a pesquisa por novos materiais, como a infusão de resina na fibra de carbono, ou o composto de matriz cerâmica, mais forte, leve, e resistente ao calor, ou ainda o reuso do excedente de fibra de carbono do sistema de produção ajudam a reduzir peso, simplificar processos, ou ampliar o ciclo e vida dos plásticos.

Quem embarcou nos mais recentes modelos de avião da Boeing notou as primeiras inovações que visam ampliar o conforto e funcionalidade das cabines. A tendência é uma iluminação mais moderna e variada, janelas maiores, e mais espaço no compartimento de bagagem, somado a uma arquitetura interior mais alta e aprimorada. Além disso, a empresa está realizando experiências com som e luz integrados para uso em futuros interiores de cabine. Elas incluem, por exemplo, projetores ocultos para enviar imagens para uma divisória ou teto, que podem incluir desde dados sobre o destino ou informações sobre o voo, entre outras utilidades.

As cabines de pilotagem também devem receber doses cavalares de novas tecnologias, a começar por displays com tela sensível ao toque e aplicativos com imagem em 3D que permitem uma visão sintética do terreno, obstáculos e do aeroporto sobrepostas nos displays. Sem falar nos equipamentos estado da arte conhecidos por sopas de letrinhas como PFD, PLI, RA, ND, HUD e outros acrônimos que só pilotos experientes conseguem deglutir, mas que na essência visam uma navegação confiável e segura.

Destaca-se ainda a pesquisa por biocombustíveis em busca de uma aviação sustentável, fabricados a partir de fontes orgânicas, como plantas, algas, ou matérias-primas biológicas não comestíveis, como óleo de cozinha usado, gordura animal, ou resíduos urbanos sólidos.

Quanto aos aeroportos, ele vivem um boom inédito. Segundo a ACI (Conselho Internacional de Aeroportos (ACI), os terminais recebem globalmente cerca de 7 bilhões de viajantes por ano, ou seja, o equivalente a todos os habitantes do planeta. Com este crescimento exponencial, tanto em voos como pessoas, fica cada vez mais impossivel manter o tradicional atendimento personalizado  no embarque em processos como o check-in, emissão de boarding pass, entrega e recebimento de bagagens. “O aumento no número de passageiros coloca pressão sobre os serviços no aeroporto. Ao utilizar tecnologias como check-in via web ou através de dispositivos móveis dos aeroportos e companhias aéreas, essa pressão pode ser reduzida”, explica Elbson Quadros, direto de vendas da SITA.

Esta revolução digital só se viabiliza com a participação direta do passageiro, e pela ampla disseminação dos dispositivos móveis individuais, como smartphones, tablets e notebooks. Há hoje 7 bilhões de unidades, mais de 280 milhões deles no Brasil. Nada mais natural pois que as diversas etapas da viagem também fluam em seu dispositivo.

Os equipamentos móveis ganham assim novo status. Deixam de ser apenas porta de entrada para reservas, e passam a abrigar uma gama de apps voltada às várias etapas das viagens aéreas. Além da satisfação do usuário, nasce junto um rico filão de oportunidades a ser explorado por todo o ecossistema, não só de serviços aeroportuários mas também do comércio. Inclui, entre outras, do check-in à gestão completa da bagagem (auto serviço, acompanhamento no percurso, retirada no destino), além da capacidade de facilmente localizar e se comunicar com o passageiro a qualquer momento, dentro ou fora do avião.

Nos próximos três anos os quiosques de autosserviço dos aeroportos, hoje bem burrinhos e restritos a fazer check-in, devem ganhar inteligência, habilitando-se a receber outras funcionalidades. Uma delas é permitir o download em dispositivos móveis de livros e filmes para entretenimento durante o voo. Incluem ainda imprimir etiquetas de bagagem para que o próprio passageiro marque sua mala antes de deixá-la em pontos de despacho, assim como prestar assistência em casos de bagagem extraviada. Ou ainda, ajudar a remarcar voos diante de situações imprevistas ou cancelamentos.  Além disso, pesquisa da SITA indica que até 2018 a maioria das companhias aéreas (68%) deve disponibilizar internet sem fio e serviços multimidia dentro e fora da aeronave.

Para acompanhar este movimento irresistível e sem volta, a SITA estima que os investimentos em tecnologia nos aeroportos de todo o mundo devem superar de longe os quase U$ 9 bilhões feitos em 2015. A exemplo do que já ocorre de maneira pioneira no Aeroporto de Miami (leia box) acima de 80% dos terminais aéreos deverão instalar em vários pontos sensores de localização conhecidos como “beacons”. Eles usam tecnologia bluetooth para conectar pessoas através de seus dispositivos móveis com coisas. Aproveitam os dados obtidos para alavancar não apenas o comércio e serviços de apoio, mas também aprimorar a gestão dos aeroportos.

A SITA possui um laboratório que explora a aplicação de novas tecnologias nas diversas etapas do transporte aéreo. Uma delas é a de vestimentas (“wearables”), como óculos da Google e smart watches (relógios inteligentes). Outro é o envio por SMS do cartão de embarque para o dispositivo do passageiro, o que permite o embarque não assistido em todas as fases.

Quanto às companhias aéreas, em busca de tornar mais fácil a vida dos passageiros, principalmente o viajante de negócios mais frequente (e também mais lucrativo), desenvolveram alianças. Com forte tendência a se expandir nos próximos anos, são acordos de cooperação entre as empresas que servem para reduzir custos, compartilhar voos, e oferecer mais opções de embarque. As principais são a Star Alliance, a maior e primeira associação a surgir, em 1997, a Oneworld, e Sky Team. (Leia box).

Neste cenário de futuro, como se situa a aviação no Brasil? “Somos uma das mais desenvolvidas do mundo, além do quarto maior mercado doméstico do planeta. Temos quatro grandes empresas aéreas de alto gabarito, uma malha aérea que cobre razoavelmente bem o país, e aeroportos em franca evolução” afirma o consultor Adalberto Febeliano. Otimista, ele aponta para a frente algumas melhorias que são necessárias: realidade tributária mais adequada ao setor, aperfeiçoar procedimentos de gerenciamento do tráfego aéreo, e combustível mais barato.

Tudo muito bacana e promissor. Mas para o passageiro comum, que viaja em classe econômica, sobrevoa ainda uma questão mal resolvida. É que mesmo sabendo que ele é a sua maior fonte financeira e a própria razão de ser do negócio, quanto mais a aviação comercial se transforma em transporte de massa mais as acomodações da classe econômica pioram, e o nível de serviços mais se despersonaliza. Isto não se aplica, é claro, para um pequeno grupo privilegiado que pode se dar ao luxo de viajar em business ou primeira classe a peso de ouro. A conclusão é que de nada adiantará toda a parafernália tecnológica se ela não beneficiar diretamente a vasta maioria das pessoas.

Este talvez se constitua no maior desafio desta indústria: com se expandir sem que a palavra avião se torne para os passageiros comuns sinônimo de pesadelo, ou mal necessário? Será que não está na hora de resgatar o passado glorioso da aviação, quando voar era uma experiência única, gratificante e inesquecível?

Star Alliance: em busca da conexão total

Oferecer ao viajante frequente um serviço que integre diferentes companhias aéreas, formando uma ponte virtual global que o leve de ponta a ponta do trajeto da forma mais cômoda possível. Foi com esta missão que surgiram as alianças aéreas internacionais.

Para dar uma ideia do poder de fogo destas associações, basta dizer que a Star Alliance, a primeira e maior delas, congrega 28 companhias aéreas. São 4.600 aeronaves que atendem 640 milhões de passageiros por ano através de 18.500 voos diários para 1300 aeroportos em 192 países.

“Nosso principal objetivo é estabelecer as melhores conexões de alcance mundial”, explica Mark Schwab, CEO da Star Alliance, um norte-americano veterano da indústria e que fala português perfeito aprendido no Rio de Janeiro quando trabalhou para a extinta Pan Am. Ele acrescenta: “As associadas desenvolvem sinergias graças à colaboração global e em larga escala”. Além de compartilhar programas de fidelização, a aliança criou uma rede de mil Salas VIP em aeroportos do mundo inteiro. No Brasil, ela já foi representada pela Varig, para depois saltar para a TAM e a seguir ser trocada pela Avianca. No momento, namora também a Azul, com a intenção de manter uma espécie de bigamia no país.

Schwab prevê um futuro promissor: “As alianças deixaram marca na aviação e devem continuar a desempenhar um papel de destaque na indústria. No caso da Star Alliance, isto deve ocorrer pelo crescimento da rede de associadas com novas rotas e frequências, e maior alcance geográfico através da cooperação com empresas que operam sob o modelo low-cost ou híbrido”, ele conclui.

Aeroporto de Miami adota 500 “beacons”

Apesar do nome sugerir algum tipo de ave em extinção, beacon é um pequeno dispositivo eletrônico de localização. Instalado em paredes, produtos ou vitrines, emite informações via bluetooth a equipamentos móveis. Filho legítimo da internet das coisas, viabiliza a interação entre consumidores e empresas, sem a necessidade de acesso à internet.

A sua utilização, antes restrita ao comércio, está se tornando popular também em aeroportos, como o de Miami. Primeiro do mundo a ter implantação completa e aberta, aos cuidados da SITA, está presente nos embarques, check-in, skytrain, acesso aos portões, retirada de bagagens e zonas de estacionamento. Cada beacon transmite seu identificador, que pode ser usado pelas companhias aéreas, lojas, restaurantes e aplicativos de outros concessionários e prestadores de serviços de inúmeras formas. Com esta tecnologia é possível transmitir tanto notificações aos passageiros de cada etapa da viagem, como informações operacionais aos funcionários.

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