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MORTE DE QUEM NÃO VIVEU - o fim da classificação dos hoteis por estrelas reforça o poder do consumidor na decisão.

Demorou, mas a realidade atropelou a burocracia. Anuncia-se que a anacrônica classificação de hotéis entre uma e cinco estrelas deve acabar no Brasil. Até que enfim as autoridades de plantão do Ministério do Turismo perceberam que esta metodologia perdeu a razão de ser. O sistema se tornou inútil. Não atende nem aos interesses dos hóspedes, nem dos hotéis.

SISTEMA OBSOLETO

A classificação de hotéis pode ter sido importante no passado, mas hoje tornou-se obsoleta. Vários fatores contribuíram. A ampla difusão de ferramentas online e sites de avaliação como o TripAdvisor permitiram ao próprio consumidor avaliar os estabelecimentos. É uma boa notícia. A qualidade de um hotel deixa de ser medida só por pareceres técnicos, ou pela opinião de poucos e nem sempre preparados jornalistas. Agora, o que vale é a média das avaliações de dezenas, até centenas, dos que pagam e usam as instalações.

SIM OU NÃO – O consumidor tem nas mãos o melhor remédio para determinar se um hotel é bom ou péssimo para ele.

Há outra questão. Cada vez mais prevalecem as tendências de mercado. Por exemplo, um viajante de negócios pode dar mais valor a um hotel ser silencioso e ter internet confiável do que contar com piscina ou ser próximo a um shopping center. As redes hoteleiras captaram isto na frente de todo mundo. Segmentaram seus estabelecimentos por categorias econômicas, combinado à necessidade prioritária dos clientes.

DINHEIRO NO LIXO

No entanto, fica uma pergunta. Por que a partir de 2011 desperdiçou-se tanto dinheiro público, inclusive com a contratação de consultorias externas, para persistir com um sistema tão inútil?

Quando no mundo inteiro as resenhas publicadas por viajantes ganhavam cada vez maior relevância, o Brasil resolveu trafegar na contramão. Sob a impronunciável sigla SBClass (Sistema Brasileiro de Classificação dos Meios de Hospedagem), insistiu em modelo antiquado, anunciado sob fanfarras.

CEGUEIRA? – O Ministério do Turismo tinha indicações de que classificar hotéis por estrelas não era o caminho.

Os meios de hospedagem foram então divididos em sete: hotel, resort, hotel-fazenda, cama e café, hotel histórico, pousada e flat/apart. Cada um podia conquistar de 1 a até 5 estrelas. Na complexa constelação tupiniquim, as categorias deviam atender a alguns requisitos básicos, que qualquer hoteleiro leva em conta no seu projeto, como horário da recepção, tamanho dos quartos e banheiros ou frequência na troca de roupa de cama.

As categorias também foram contempladas com regras rígidas. Por exemplo, para ser considerado “hotel”, o lugar precisaria atender a 68 itens de serviços, 108 de infraestrutura e 15 de sustentabilidade. Dá para avaliar a trabalheira para implantar e controlar este processo, abrindo portas inclusive para o suborno.

 

MONSTRENGO – o finado sistema para classificar meios de hospedagem tornou-se um monumento à burocracia e suborno

VALOR DA EXPERIÊNCIA 

Desprezado a segundo plano ficaram de fora questões subjetivas, por vezes intangíveis. No entanto, são exatamente aquelas que consideram a experiência do hóspede. E que, no final das contas, determinam a decisão de hospedagem. Fatores como qualidade do serviço, competência e calor humano da equipe, apresentação e sabor das refeições, bom gosto na decoração, perfil do hóspede, tempo de atendimento, qualidade da internet, entre tantos outros. Esta lacuna vital foi ocupada pelos sites de avaliação, e que hoje se tornaram a principal ferramenta de decisão do usuário.

A indústria de fake news e disparos pagos no WhatApp também existe no turismo através de blogueiros de araque ou à soldo de interesses comerciais. LEIA MAIS 

Vamos falar claro? Quando se trata de hospitalidade, seja qual for a acomodação, do básico ao luxo, o hóspede espera essencialmente a mesma coisa. Limpeza, cama confortável, chuveiro com água quente, ar condicionado, internet, silêncio e segurança. O resto varia entre o nível de sofisticação destes mesmos itens agregado a penduricalhos, mordomias e supérfluos oferecidos por cada estabelecimento.

O SBClass nunca chegou a levantar voo. Opcional, foi seguido apenas por pouquíssimos. Ninguém lembra mais nem quais foram. Como esqueleto gerado pela burocracia impessoal, o sistema tornou-se um triste monumento ao desperdício de tempo e recursos públicos.

CHEGA DE AVENTURAS! – O Turismo no Brasil precisa abandonar experiências perigosas e ser levado a sério.

1 Comment

  1. Samile disse:

    Na época em que se inventou essa classificação, ela era considerada confiável, pois a avaliação era feita por profissionais da área de turismo, e isso era coerente com as exigências dos turistas de então. As subcategorias surgiram como forma de avaliar se aquela acomodação merecia uma ou mais estrelas, pois ter ou não uma piscina faziam a diferença. Concordo que a opinião dos viajantes conta pontos na hora de escolher a acomodação, porém essas avaliações podem ser subjetivas, o que ajuda muito são as fotos. Aguardemos o curso dos acontecimentos, o importante é reinventar o modo de ver e viver o turismo.