SMARTPHONE TIRA SONO
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LINKEDIN: O PERIGO MORA AO LADO  
21 de janeiro de 2015

Lá se vão séculos desde que o sal foi usado como forma de pagar os soldados do Império Romano. Na época considerada iguaria cara, podia ser trocado por alimento, vestimentas e serviços. Daí vem a palavra salário, derivada do latim salarium. Eruditismo à parte, o fato que é o dinheiro nunca deixou de ser usado pelas civilizações. O que ocorreu é que ele foi se transmutando em formas diferentes ao longo do tempo. Foi assim mais tarde com o papel moeda, o talão de cheques, e o cartão de crédito. Quando parecia que as inovações tinham chegado ao fim da linha, surgiu a digitalização. Com ela, o dinheiro começou a se tornar invisível. Não deu outra. Adeus, carteira de dinheiro, bem-vinda carteira digital. Se o objetivo era só viabilizar as transações financeiras, agora cada vez mais a função se expande também para a autenticação de credenciais do proprietário. Assim, as aplicações práticas vão se multiplicando, o que permite desde verificar a idade do comprador antes de autorizar a compra de bebida alcóolica até identificar e combater graves fraudes.

Não faltaram precursores desta nova era online de hoje. Desde 2000 que os escandinavos começaram a pagar as compras em máquinas automáticas através de mensagens de texto, quando o resto do mundo ainda nem pensava em enviar SMS. No Quênia, a moeda criada em 2007, M-Pesa (M de mobile, móvel em inglês; pesa de dinheiro em suaíli), permite a quase 70% da população adulta usar créditos comprados no varejo, e usados pelo celular nas transações. A rigor, a ideia de fazer pagamentos via equipamentos móveis não é original. Já em 1998 os criadores do PayPal sonhavam com a transferência de dinheiro entre usuários através do jurássico PalmPilot (alguém ainda lembra deste apetrecho?). Mais tarde eles mudaram o rumo e criaram o sistema de pagamentos através da web. Venderam a empresa em 2002 por 1,5 bilhão de dólares, e o resto é a história de sucesso que todo mundo conhece. Novos aplicativos nunca mais deixaram de surgir. A consultoria Forrester Research estima que em 2019 só nos Estados Unidos os pagamentos online devem atingir 90 bilhões de dólares – sete vezes mais em 2011-, até se tornar a principal modalidade do comércio.

No Brasil, de acordo com a Paypal, as compras pela internet em 2014 chegam a quase 93 bilhões de reais, um sexto delas através de equipamentos móveis. Se ainda havia alguma dúvida sobre a adesão do consumidor brasileiro ao canto da sereia digital, ela se dissipou com os resultados do Black Friday de 2014. A ClearSale calcula que esta megapromoção movimentou em poucas horas R$ 872 milhões no comércio eletrônico do país. Foram mais de 2 milhões de transações, praticamente o dobro do ano anterior, segundo a SBVC e Virtual Gate.

Diante deste cenário tão promissor, qual a empresa de tecnologia que não quer abocanhar um naco deste saboroso filão? Uma pesquisa da AngelList, um site que acompanha os passos de startups, revela que há cerca de 1.500 empresas recém-criadas com foco em pagamentos digitais.  A batalha não é apenas para ganhar o rico dinheirinho das intermediações nas vendas. O que está em jogo é conquistar também uma joia da coroa bem mais valiosa: as informações privilegiadas sobre hábitos de consumo. É a porta do céu da fidelização dos clientes. Por isto, a palavra de ordem do comércio é clara: “Conheça o comportamento do consumidor, ou o mercado vai te devorar”.

Atenta ao potencial da economia brasileira, a norte-americana Paypal comemora três milhões de compradores ativos no país, mas ainda uma gota no oceano perto das 157 milhões de carteiras digitais que a empresa possui em 203 países. Dos 180 bilhões de dólares de pagamentos movimentados em 2013, 15% deles foram realizados via dispositivos móveis somando um bilhão de transações. “No Brasil possuímos várias experiências, como a solução de check-in em lojas pelo celular, que evita o cliente passar por filas no caixa”, explica Mario Mello, diretor geral da Paypal para a América Latina. Ele também menciona a solução desenvolvida para a 99Taxis, que serve para pagar o serviço diretamente no aplicativo da rede de táxis.

Toda empresa que quer expandir os negócios com baixos investimentos entra para o universo virtual. Não há banco, supermercado, loja de varejo, ou prestador de serviços, que não tenha criado o próprio canal de vendas online. Este é um terreno fértil também para associações inusitadas, como o da Shell com a Sem Parar. Eles vendem gasolina com apoio dos tags instalados nos vidros carros que originalmente servia só para pagar pedágios e estacionamentos.  Basta o usuário parar o veículo em um posto de gasolina que o sensor reconhece o dispositivo, confere os dados, e aprova na hora o abastecimento. Mas uma coisa é controlar pedágios, de valor baixo, outra é financiar gasolina que envolve volumes de dinheiro maiores. Por isto, neste caso e o de outros “estranhos no ninho” nos meios de pagamentos enfrentam desafios que não se limitam à gestão e logística. É que nas transações digitais há uma pegadinha que atende pelo nome de segurança das informações. Como assegurar que dados pessoais e recursos financeiros não caiam em mãos erradas, como quadrilhas que acompanham a evolução tecnológica e se sofisticam a cada dia, inclusive no Brasil? Há pouco tempo a polícia do Rio desarticulou fraudadores que usavam bluetooth para clonar cartões de crédito através de máquinas adulteradas em restaurantes de luxo. “O Brasil é um dos pioneiros no uso do chip e sistemas de segurança contra clonagem de cartões. Muitas vezes esquemas desonestos surgem no país antes de se expandirem para outras partes do mundo”, revela Joel Nunes, gerente de consultores de soluções para América Latina da ACI Worldwide.

As violações de dados expõem diariamente as informações pessoais de consumidores: números de cartões de crédito, prontuários médicos, senhas, contas bancárias. Pesquisa da Symantec revela que mais de 552 milhões de identidades foram expostas através de violações só em 2013. “Sempre que criamos alguma facilidade através de uma infraestrutura computacional ela vem acompanhada de novos riscos, que muitas vezes não foram considerados no desenvolvimento da inovação”, complementa Marcos Argachoy, Mestre em engenharia de Software, consultor e professor em Segurança da Informação. Ele dá um exemplo tirado do cotidiano que demonstra a fragilidade dos controles digitais: “Antes, para pagar uma conta com um boleto era necessário recebê-lo pelo correio. Hoje é possível não só emitir mas atualizar documentos vencidos via internet. Mas essa operação só é segura se a máquina estiver livre de “malwares”, que podem alterar os dados do código numérico para que o pagamento seja direcionado para um fraudador, e não para a conta do vendedor”, conclui.

Para as empresas de tecnologia, esta é uma briga para cachorro grande. Nela, Apples se digladiam com Facebooks e Samsungs, entre outros gigantes, alguns adormecidos, outros prestes a acordar para entrar na luta. “Este é um mercado bastante competitivo e com grande potencial de crescimento, que acompanha a evolução do e-commerce. Por isso, é cada vez maior o número de players no mercado, o que é excelente para o consumidor que terá opções de serviços diferentes”, afirma Mario Mello, da Paypal. Mesmo novatos como a Snapchat, um app que até ontem nem existia, caiu no gosto popular. O que ele faz? Permite aos usuários mandar dinheiro entre eles por uma simples mensagem. Mais novidades pipocam a cada dia, colocando em cheque (sem trocadilho) qual o futuro papel dos bancos. “Com a crescente desintermediação, eles terão que se reinventar”, afirma o consultor Álvaro Taiar, responsável pela indústria de mercado financeiro da PwP. Para ele, o movimento digital que promove mudanças radicais nos meios de pagamento se divide em três grupos. O primeiro envolve a mudança de interface, e na prática incorpora a praticidade promovida pela tecnologia para oferecer facilidades, como a transferência bancária via cartão ou celular. O segundo grupo redistribui a origem do dinheiro, o que inclui cartões pré-pagos, em suas mais diversas formas de segmentação. São exemplos também sistemas como o Paypal, ou o Apple Pay. Há ainda um terceiro grupo, o das moedas virtuais como o bitcoin ou os pontos dos programas de recompensa. Estes, como que dotados de vida própria, não têm maiores ligações com o dinheiro oficial. Taiar destaca ainda que para todas estas situações o papel do governo como regulador dos meios de pagamento é vital.

No admirável mundo novo, versão digital, em apenas cinco anos 90% da população terá seu próprio smartphone, capaz de conectar gente e também coisas entre si. Serão 6,1 bilhões de aparelhos, ou seja, um pouco mais do dobro dos atuais 2,7 bilhões de equipamentos que já operam no planeta. “O baixo custo dos aparelhos, a melhoria do uso e o aumento da cobertura de rede são os principais fatores que estão tornando a tecnologia móvel um fenômeno global”, conclui Jesper Rhode, diretor de marketing da Ericsson na América Latina.

Quando se trata de pagamentos online, há boas e más notícias. A ruim é que uma pesquisa da ACI indicou que um em cada quatro titulares de cartões no Brasil foi vítima de fraude nos últimos cinco anos. A boa é que o país melhorou uma posição em relação ao levantamento de 2012 e hoje ocupa o 8º lugar do ranking de fraudes financeiras entre 20 países. Segundo a pesquisa, 30% dos brasileiros jogam no lixo documentos com números de contas bancárias; 22% usam serviços bancários ou lojas online em computadores sem softwares de segurança, ou em PCs públicos; e 21% deixam seus smartphones desbloqueados quando não os usam. “Qualquer um sabe que precisa ser cuidadoso com as coisas físicas. Afinal, ninguém mantém a porta de sua casa destrancada só porque vai sair no dia seguinte, certo? Mas quando chega ao mundo virtual, muita gente deixa a sua senha salva no computador, ou escrita em um papel, só porque irá usá-la no dia seguinte.”, desabafa Marcos Argachoy. Para este tipo de comportamento, convenhamos, não há sistema que resolva.

Esquadrão anticrime online

Na teoria, tudo parece perfeito. É que com a carteira digital, os consumidores não precisam mais preencher formulários chatos para cada compra. A informação é automaticamente guardada e atualizada no site do vendedor, protegida por um software de criptografia. Mas na prática as coisas não são bem assim. Volta e meia há notícias de fraudes e arquivos violados. Para garantir a segurança das transações dos compradores e vendedores, as empresas de tecnologia investem no combate ao crime cibernético. Um exemplo é a Paypal, que criou a divisão Global Risk Sciences. Ela trabalha online com especialistas em inteligência que utilizam sistemas e ferramentas de última geração para analisar grandes volumes de dados, identificar padrões de comportamento e desenvolver algoritmos para identificar e combater situações fora da curva. A divisão opera 24 x 7 em quatro locais diferentes: Tel Aviv (Israel), Shangai (China), San Jose e Austin, ambas nos EUA.

Os principais sistemas de pagamento online

As carteiras digitais nada mais são que apps para smartphone que acumulam dados como pagamentos a informações pessoais. Além das brasileiras como o PagSeguro da UOL, o MOIP e BCash, eis alguns dos sistemas mais disseminados no mundo:

  • Google Wallet
  • Passbook, da Apple
  • Lemon Wallet
  • Square Wallet
  • Isis
  • Geode, da iCache
  • Chirpify
  • Venmo
  • Dwolla
  • PayPal
  • Bump Pay
  • Groupon App
  • Zipmark

Como garantir a segurança digital

  • Antes de armazenar os seus dados, certifique-se de que o serviço ou aplicativo adota bons padrões de privacidade e segurança.
  • Cuidado com o phishing: sempre verifique se o site onde você está fazendo o login é realmente o que você quer, e não uma imitação.
  • Utilize uma conexão segura: confirme se o seu browser está mostrando o cadeado e o “http” no começo da URL.
  • Não coloque o seu login de um site, como o do Facebook, em outro site ou ferramenta que não conheça.
  • Desconfie se um aplicativo pedir mais permissões do que precisa para fazer a tarefa para a qual foi instalado.
  • Verifique se a empresa tem uma plataforma confiável, se realmente existe na vida real, e se há indicações claras para fazer contato com ela.
  • Não repita senhas em vários sites, nem utilize combinações fracas, pois o invasor pode testar as credenciais obtidas em um lugar e entrar em outro.
  • Evite utilizar equipamentos compartilhados (lan houses, cafés, hotspots, business centers). Sempre que possível use o seu próprio.
  • Mantenha um programa de antivírus instalado e atualizado.
  • Utilize softwares e APPs licenciados, e se possível consulte as avaliações de outros usuários.
  • Pesquise se existem reclamações em relação ao site e a loja onde você pretende fazer alguma compra.
  • Desconfie de mensagens que sugerem urgência na resposta, como comunicados que exigem atualização de dados imediata.
  • Para e-mails que solicitam acessar um link, verifique antes a autenticidade, ao passar o mouse sobre o link e ver se o endereço de origem é compatível.
  • Nunca abra anexos de e-mails se não estiver completamente seguro de que é legítimo.
  • Revise sempre seus extratos bancários e faturas de cartão de crédito em busca de irregularidades.
  • Desconfie de ofertas online que parecem boas demais para ser verdade.

Fontes Properly, Marcos Argachoy, Symantec, Paypal 

 

Matéria MOEDA DE TROCA (prog. recompensas)

 

 

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