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Quando se trata de turismo, o Brasil tem muito a aprender com os países que souberam tranformá-lo em uma indústria bem sucedida. Há uma crônica falta de sintonia entre o que o governo pensa em fazer e o que a iniciativa privada gostaria de ver realizado . O abismo começa pela falta de vocação para o assunto por parte das autoridades lotadas no turismo, um abrigo provisório para outras ambições políticas. A isto se soma a mania de desenvolver fórmulas prontas nos laboratórios governamentais e depois apresentá-las como fato consumado ao empresariado

Qualquer dono de granja sabe que não é uma boa ideia correr atrás de galinhas fujonas, e abandonar o  essencial, que é a gestão do galinheiro. Já é hora de as autoridades encarregadas do turismo tirarem uma boa lição deste conceito simples de ver o conjunto e não se concentrar no particular – e isso vale tanto para a hotelaria quanto para a aviação ou destinos brasileiros.

A falta de sintonia com a iniciativa privada vem da incapacidade do governo em estabelecer estratégias voltadas aos interesses legítimos da indústria turística, e não ser apenas fruto de acomodação política para dar lugar a quem entende tanto de turismo quanto um cantor de tango de fissão nuclear. Em geral, trata-se de astros de segunda grandeza, descompromissados e que sabem estar ali só de passagem.

A cena se repete de forma monótona e com final previsível. Basta chegar o período eleitoral para que dirigentes de plantão embarquem em novos voos, deixando um rastro de projetos de curto prazo que, apesar de foguetórios de impacto visual e sonoro, são de curta duração, e se extinguem mal os seus patrocinadores dobram a esquina.

Ao invés de perder tempo na implantação de processos obsoletos como a classificação dos meios de hospedagem, hoje substituídos por ágeis mecanismos da internet, onde o consumidor avalia os estabelecimentos, o governo prestaria melhor serviço se desenvolvesse um plano estratégico para o turismo brasileiro. Ou ajudasse a desburocratizar uma legislação extemporânea que não atende a ninguém. Ou liderasse a luta por uma infraestrutura que permita ao turismo operar dentro de padrões competitivos.

Ou democratizasse financiamentos para reformar e construir hotéis, hoje inviáveis. Ou ainda incentivasse a capacitação para o setor, que tem baixa qualificação.

Não precisa ir muito longe. Basta olhar o exemplo de Cancun, no México. Há quarenta anos, sequer constava do mapa. Nasceu de um desenvolvimento planejado, após estudos do governo federal, interessado em promover o progresso da região por meio do turismo.

Identificado o potencial do território de Quintana Roo, na época com 154 habitantes, em 1970 a cidade surgiu do zero. Forjou-se o nome  Cancun, emprestado dos maias, e que significa “ninho de víboras”. Hoje, graças à continuidade na execução, vivem ali quase 600 mil habitantes, com uma renda de US$ 10,2 bilhões, graças aos três milhões de turistas que a visitam a cada ano – mais da metade dos viajantes internacionais captados pelo Brasil.

Melhor que reclamar dos altos custos da hotelaria ou da aviação, consequência da soma de problemas que vão da falta de infraestrutura e de estímulo à concorrência a um custo Brasil que amplifica preços, seria melhor se inspirar em Cancun. A começar pela vontade política das autoridades, que precisam apostar no turismo como indústria séria e de peso para a economia, passar a ouvir empresários e não chegar em reuniões com fórmulas prontas, e dar continuidade ao que começaram.

Até lá, destinos e interessados em promover o turismo continuarão a luta inglória, enquanto os governos se perdem na miopia crônica.

 

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