(Reprodução de matéria publicada na Brasilturis, 2a. parte)
BRASIL: UM DESTINO SEM DESTINO?
O que torna um destino mais atrativo que os demais? Saber o que torna as cidades mais visitadas não é resposta simples. “Há diversas formas e públicos, dependendo da imagem que dá o tom do local no imaginário e expectativas do turista”, explica Adriana Cavalcanti. Veterana na indústria e ex-Air France / KLM.. Ela é atual presidente do conselho consultivo da WTM da América Latina. “A imagem pode estar associada a recursos tangíveis (localização, instalações, atrações locais, etc) ou intangíveis (história, cultura, gastronomia, experiências de aventura, sensoriais, espirituais, etc). No entanto, Adriana adverte, não basta promover o lugar. É preciso boa gestão dos recursos com a integração de todos os elos do setor.
Claude Blanc, Diretor Global de Portfolio da WTM, fundador da Travel & Co e com larga experiência na indústria de viagens e hospitalidade, tem opinião similar: ”Para uma cidade se tornar um destino líder pesam dois fatores: atrações e conectividade”. Ele explica: “Os viajantes precisam ter uma boa razão para fazer o trajeto. Não importa a distância. As cidades mais visitadas são as que sabem entreter o visitante durante toda a permanência. Ele necessita de algo para explorar, seja um local histórico, experiência cultural ou praia luxuosa”.
“O elemento em comum de todas as cidades mais visitadas é, além de estratégia de marketing durável e aliança com todos os atores da promoção turística, terem DMCs (Destination Marketing Organizations) fortes, atuantes e altamente profissionalizados”, avalia Paulo Salvador. Ele é especialista em destinos e distribuição depois de fazer carreira executiva na Accor, Intercity, Worldhotels e Omnibees. “Nos tempos de hoje, um grande destino não é fruto apenas do milagre da natureza”, Paulo revela.
Quando a imagem do destino está associada a itens negativos – como violência, epidemias, desastres naturais – o tiro pode sair pela culatra, destaca Adriana Cavalcanti. “Testemunhos de pessoas que estiveram no lugar e relataram má experiência contribuem para se pensar duas vezes antes da escolha”.
Paulo Salvador agrega a que além de não ter reputação de violência, é vital um posicionamento que inspire o viajante. “Todo destino – seja ele uma grande cidade ou uma pequena comuna – tem um diamante estratégico. Ele deve ser lapidado de maneira durável e profissional”, comenta.
Chegar com relativa facilidade a um destino é um fator decisivo na escolha. “Se o viajante é obrigado a pegar até três aviões diferentes e fazer múltiplos percursos por terra, a visita torna-se menos provável”, diz Claude Blanc. Cita os planos da China de construir oito aeroportos por ano que coincidem com iniciativas de incrementar o turismo no país. Para ele, o custo total da viagem e segurança são também itens predominantes. “Mesmo se um destino for econômico, mas não transmitir segurança, o viajante vai embarcar para outro lugar”, conclui Blanc.
O equilíbrio ideal no Turismo pode ser representado por um triângulo perfeito. Nele, residentes, negócios e visitantes ocupam lados iguais. O resultado é um equilíbrio que traga à cidade ao mesmo tempo qualidade de vida, encantamento e prosperidade.
O que seria preciso para isto? “Falta planejamento na divulgação turística brasileira. Os órgãos oficiais ainda deixam muito a desejar. Temos a sensação de que cada cidade cuida de sua divulgação internacional”, avalia Adriana Cavalcanti. Para ela, é preciso entender a vocação do destino, fazer um bom planejamento, e usar todos os meios de divulgação disponíveis. Cita o exemplo da França: “Os escritórios da Atout France espalhados pelo mundo usam todos os recursos midiáticos para divulgar os destinos, particularidades e múltiplas atratividades do país. Talvez por esta razão Paris tenha sido por anos a cidade mais visitada do mundo”.
“Apesar do Brasil ser um dos países mais lindos e ricos em cultura do mundo, ainda está em desenvolvimento. A sua infraestrutura e rotas para as cidades ainda não fazem jus ao seu potencial”, acrescenta Claude Blanc.
“Minha recomendação é que se crie uma meta de longo prazo, com iniciativas e indicadores, e uma camada de proteção que evite descontinuidade por circunstâncias políticas. Tudo isto deve ser gerenciado por profissionais que saibam o que estão fazendo”, conclui Paulo Salvador.