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 Quando foi mesmo que viajar de avião perdeu o charme?

Não faz tanto tempo embarcar em avião era um momento revestido de pompa, não raro testemunhado por amigos e familiares. Hoje, tornou-se mal necessário. Muitos passageiros, principalmente os da classe econômica, associam transporte aéreo ao pesadelo do tratamento de canal em dentista. Só que sem anestesia. 

O conforto das aeronaves sumiu. As poltronas encolheram na espessura, largura, reclino, e distância entre fileiras. As mesas de serviço também se reduziram na mesma proporção que a generosidade das refeições. Nos voos nacionais o padrão é agora pagar pela comida, e nos internacionais engolir tremendas gororobas que em outra época seriam consideradas ofensivas.

Atrasos nos voos também virou rotina. Em aeroportos em horários de pico formam-se filas de até dezenas de aeronaves aguardando em terra a vez para decolar, e no ar o momento de pousar.   

O golpe de misericórdia dos bons tempos aeronáuticos chegou também ao Brasil com a cobrança das bagagens. Se por um lado é compreensível taxar-se apenas quem leva carga, por outro soa como atitude mesquinha das companhias, inconcebível nos velhos tempos de vacas gordas.

 Somem-se aeroportos tumultuados e impessoais, repletos filas no check-in, segurança, compras, banheiros, embarque, desembarque, imigração, retirada de bagagens, transporte. Até os terminais estão em descompasso com o movimento crescente de usuários, mas isto é uma outra história.  

Quem é o responsável por este quadro de deterioração, que não é só um problema brasileiro, mas algo que aflige o transporte aéreo de todo o mundo? As companhias aéreas respondem, sem piscar: a culpa é do próprio consumidor!

Ao optar por preços reduzidos de aéreas low cost, em contrapartida a baixos padrões de conforto e serviço, o usuário sinalizou a sua preferência. Para se tornarem competitivas, as companhias tradicionais resolveram reduzir radicalmente custos e assim oferecer tickets mais baratos. Isto foi feito às custas de espremer espaço entre poltronas para mais gente caber no mesmo avião. Quanto ao serviço de bordo, tornou-se espartano.

Segundo o The New York Times, outro fator colaborou para esta triste situação: a pressão dos investidores de companhias aéreas sobre os gestores por mais lucros. Por exemplo, na American Airlines há cinco anos os salários dos executivos dependiam de itens como pontualidade dos voos, reduzidos índices de extravio de bagagem ou satisfação dos clientes. Hoje os bônus estão focados em resultados financeiros e custos baixos. A estratégia deu certo, pelo menos para os acionistas. Assim, se por um lado a ação e margens de lucro de empresas como a United deram um formidável salto, do outro foi o passageiro que pagou o pato. Todos conhecem o filme. O espaço para as pernas entre assentos encolheu. O overbooking aumentou. As bagagens, alimentação e entretenimento passaram a ser cobrados.

O Brasil acabou por acompanhar a tendência internacional. Recentemente a GOL passou a cobrar pela bagagem, ou, dito de outra maneira, dá desconto nas passagens para quem não despachar mala. Já a LATAM foi mais objetiva: lá o passageiro só ganha sorriso e água. O resto tem que ser pago.

Mas há uma questão maior. Não é razoável colocar no mesmo balaio espaço e conforto – questão até de saúde – com taxação de serviços agregados, como bagagem, alimentação, internet e entretenimento. Como resolver esta questão? Através de melhores políticas públicas, que assegurem os direitos essenciais do consumidor de avião. Nem de brincadeira é possível aceitar propostas absurdas que de vez em quando surgem no mercado. Tipo fim dos banheiros nos aviões em troca de mais assentos. Ou então passagens baratas para quem viajar em pé.       

Neste interim, é preciso reconhecer o esforço dos ônibus interestaduais para melhorar seus níveis de conforto e serviço. Por isto, tornou-se até ofensa para eles serem comparados a aviões. Sinal dos tempos.

 

3 Comments

  1. Fabio, permita-me fazer uma consideração. Creio que é um pouco inapropriado traçar paralelo entre os tempos glamourosos e os parâmetros atuais da aviação sem esclarecer as diferenças tarifárias.

    Antigamente o padrão de conforto e serviço era outro porque os passageiros pagavam por tudo sem saber, embutido na passagem. O caviar que a Varig chegou a servir na primeira classe de voos para Europa (em porcelana japonesa, taças de cristal e talheres de prata) não era um mimo da empresa: era bancado pelos próprios passageiros. Observe-se que certas excentricidades a bordo ainda existem: basta voar na primeira classe ou na classe executiva de uma Emirates ou de uma Singapore, por exemplo.

    Essa seria a comparação mais apropriada. Não apenas em termos de classes, mas também em termos de custos. Comparar primeira classe de antigamente com classe econômica de hoje gera distorção. Mesmo as econômicas de ontem e hoje não podem ser colocadas no mesmo patamar, porque o padrão tarifário é completamente diferente.

    Até o ano de 2000 um voo POA-GRU na classe econômica da Varig era R$ 700 (perna única, só ida). Hoje esse voo tem um preço médio de R$ 150 (perna única), e pode ser encontrado por menos em promoções específicas. Aliás “promoção” era uma palavra inexistente no vocabulário da aviação de outrora.

    No fim a impressão que essas comparações sugerem é que os bons serviços foram abolidos e hoje todos somos obrigados a voar com menos conforto, pagando o mesmo que antigamente. Isso não é verdade.

    Ainda existem companhias e serviços de alto nível. Quem abdica disso em nome de apenas chegar com rapidez e segurança em seu destino, função primordial do transporte aéreo, tem uma compensação óbvia no preço das tarifas. É uma troca consensual. Tanto que a migração de passageiros para os serviços atuais é majoritária. Boa parte do público da executiva tem voado na econômica (mais nos Estados Unidos e na Europa do que aqui, inclusive).

    Então não vejo esse movimento como uma depreciação da aviação comercial, e sim como uma ampliação do leque de serviços — que não apenas está popularizando a aviação, como também está atraindo o público que antes considerava conforto um item essencial em voos.

    Não faz muito, alguma entidade do setor (não tenho certeza se foi a IATA) divulgou números do transporte aéreo na Europa que iriam surpreender o pessoal que acha que low cost é coisa de país subdesenvolvido e pessoas de baixo poder aquisitivo (obviamente não estou dizendo que é o seu caso).

    Nós temos que aceitar as transformações do mercado. Principalmente porque o mais importante tem melhorado de forma indiscutível: a segurança dos voos.

    Abraço.

    • Marcelo, obrigado pelo contato. Voce tem razao na comparacao, muito bem escrita e fundamentada. Isto nao impede de lamentar a perda da qualidade de serviço dos avioes ao longo do tempo e uma certa comoditizacao das viagens aéreas. De certa forma os onibus interurbanos e interestaduais no Brasil e no mundo, tornaram-se até melhores em termos de serviços e conforto para o passageiro que os avioes. Há companhias aéreas que ainda correm atrás deste glamour perdido, mesmo na classe economica, como a Air France, Lufthansa e a nossa Azul, para dar poucos exemplos. Na minha opiniao, popularizar os voos nao é sinonimo de perda da qualidade de serviço e atendimento ao consumidor. Um abraço

  2. Geraldo disse:

    O que existe é a chamada “inclusão social” mas aí o Poder Aquisitivo do Brasileiro, como sempre modesto, faz com que as Aéreas tomem medidas para baratear as passagens e, no que passa em fazer do Avião o conhecido “Busão”, com aquela mínima ventilação, nem sempre podemos chamar de Ar Condicionado, seria muito luxo, para nossos vôos nacionais. Não diferente para que a Internet seja acessivel à todos: as chamadas conexões “compartilhadas”: 10 internautas por cada link de “navegação” o que resulta em termos “Infinity Paciência”, com páginas que demoram “a carregar” ou que caiam, não por acaso as emissoras de TV, terem que às pressas, partir para o HD, para que a “malha analógica” póssa atender ao compartilhamento, anteriormente comentado. Somos país de dimensões continentais mas com prestação de serviços, muitas vezes, análoga à países bem empobrecidos.