Basta a temporada de férias se aproximar que dá vontade de viajar. Mas sempre há a grande questão: para onde ir? Se não forem cruzeiros ou resorts, por si destinos, há uma miríade de lugares. É nesta hora que aparece uma figura até recentemente desconhecida, a do blogueiro de turismo.
Na falta de ideia melhor, a maioria das pessoas acaba seguindo o feijão com arroz. Ou seja, dentro do Brasil, em geral embarca para cidades nordestinas. Se for o exterior, cai no quarteto Miami – Orlando – New York – Buenos Aires.
Mas para quem busca novas experiências, a conversa é outra. Só que a forma de buscar destinos para viajar não é mais a mesma. Publicações de turismo e agentes de viagens que já monopolizaram a atenção do viajante perderam espaço para os blogueiros de turismo.
Debaixo do nome genérico cabe de tudo. Há desde gente muito séria com suas competentes resenhas, até perigosos amadores, muitos beirando a picaretagem com textos primários e erros grosseiros.
O blogueiro de turismo de má qualidade é filho legítimo da internet, e é rato das redes sociais. Por isto, consegue enganar desavisados e se multiplicar à velocidade da luz. Qualquer um pode se transformar em um deles e começar o seu próprio blog. Não há barreiras, sejam elas técnicas, econômicas ou éticas.
Também conhecido como “digital influencer”, ele também atende pelo nome de “instagrammer”, “vloger”, ou qualquer nomenclatura em inglês da moda. O importante é agregar algum tipo de credibilidade ao currículo, e ao seu conteúdo capenga.
Na cara de pau, o blogueiro de turismo escreve sobre o que bem entender, no seu português sofrível. Em linguagem intimista, sempre cobre o universo do turismo. Vale de tudo: destinos, viagens, hotéis, cruzeiros, restaurantes, locações de carro, acessórios, experiências pessoais.
Este tipo perverso é reconhecido por dois traços em comum. O primeiro é a ausência de trabalho jornalístico mais sério, e os posts carecem de informações relevantes. O seu oxigênio são releases oficiais, o abuso do cut & paste de textos alheios, e excesso de adjetivação. Por isto, o leitor esbarra sem parar em expressões tipo “lugar maravilhoso”, “cenário de tirar fôlego”, “acomodações espetaculares”, entre outras.
A segunda característica, consequência da primeira, é o descarado perfil comercial dos posts. Nada está escrito por acaso. Alguém patrocinou o comentário em contrapartida à retribuição editorial elogiosa. Como recheio de salsichas de reputação duvidosa, o viajante pode estar se nutrindo de alimento contaminado. Ali não figura o melhor, mas o que foi pago.
Por exemplo, o parágrafo a seguir poderia ser escrito por um destes falsos blogueiros de turismo. Há nele dez citações comerciais (grifadas), só que disfarçadas em resenha pessoal:
“Na viagem que fiz à inesquecível Austrália pela soberba companhia aérea Qantas, levei apenas minha mochila fantástica Samsonite, além do inseparável Samsung da TIM, a única que permite roaming a preços em conta. O sempre prestativo Uber me pegou no maravilhoso Hotel Marriott até o aeroporto. Lá, aguardei o voo na confortável sala VIP da Star Alliance. Aproveitei para fazer uma boquinha acompanhada de uma deliciosa Coca-Cola e completada por um saboroso Nespresso”.
Recentemente, repercutiu no Facebook um desabafo da jornalista, escritora e blogueira Claudia Giudice, hoje também proprietária de uma pousada. Ela reclamou das solicitações diárias para hospedagem gratuita destes pretensos blogueiros, que preferem se apresentar como influenciadores digitais. Entre os comentários que Claudia recebeu, há um do escritor Adriano Silva. Suas palavras expressam a indignação deste embuste, quase sempre patrocinado por empresários desavisados:
“Influenciador digital, no mais das vezes, é uma figura que aceita dizer com a sua voz qualquer coisa que pagarem para afirmar. É um cara que aluga sua opinião e sua visibilidade junto a uma determinada audiência para quem oferecer mais… E nós, seguidores destes “influencers”, somos uma enorme massa de manobra que adora ser iludida, ao melhor estilo me-engana-que-eu-gosto, que não se importa de comprar gato por lebre”.