Você sabe o que é bustronomia?
12 de outubro de 2019
Visite Miami antes que acabe!
20 de outubro de 2019

CREDIBILIDADE - A imprensa de turismo precisa exercitar melhor o seu papel crítico para contribuir para o desenvolvimento do setor

É só abrir o Instagram ou Facebook e lá estão eles. Atendem pelo nome genérico de “blogueiros de turismo”. À primeira vista a diversidade de divulgações e a democratização da informação que representam parece uma notícia positiva. Mas as aparências podem enganar. Por trás deste oásis de textos e fotos, na maioria das vezes se esconde um deserto de seriedade editorial.

A categoria de blogueiros lembra um saco de gato. Nele se esconde um pouco de tudo. Desde os poucos que realmente entendem do riscado e orientam o viajante, até bem-intencionados mochileiros que compartilham experiências, escritas em um idioma muito parecido com o português.

Alguns destes blogs são folclóricos, textos à parte. Tem uns com vídeos e fotos de meninas que se deixam fotografar de costas em trajes sumários enquanto deslumbram alguma cachoeira de plantão em serra perdida nos rincões do Planeta. Ou então um sujeito deslumbrado que enverniza sua selfie em algum museu do mundo usando obra de arte icônica tipo Mona Lisa como pano de fundo. Ou ainda um maluco-beleza que se pendura arriscadamente em monumento famoso para que as lentes possam captar seus cinco minutos de fama.

FAMA A QUALQUER PREÇO – Para um blogueiro fajuto chamar a atenção vale quase tudo…

… seja correndo riscos desnecessários…

… ou através de selfies em lugares mórbidos…

… pois, mesmo sem conteúdo, o importante é sair bem na foto.

PICARETAS

Mas há um grupo particularmente perigoso. Trata-se dos picaretas explícitos. A sua marca registrada é falar exageradamente bem de um lugar, que com certeza patrocina os elogios abundantes. Isto é feito em forma de anúncios, vantagem comercial, ou através de cortesias de estada para os titulares do blog, familiares e amigos.

Ao abrir mão de qualquer avaliação séria, honesta e isenta, estas pessoas enganam não só o incauto leitor, mas prestam um imenso desserviço ao turismo. Vendem como verdadeiras maravilhas do Universo desde hotéis decadentes e lugares sem qualquer atrativo, até embustes explícitos embalados como se fossem “experiências inesquecíveis”.

A internet tem destas coisas. Ao democratizar o acesso, permitiu misturar o bom com o ruim. No caso do Turismo, diante de tanta oferta de blogs de viagens, fica cada dia mais difícil saber em quais confiar. Como ignorar os que são fake news, têm viés comerciais, ou enfrentam conflitos de interesse?

Blogueiros desonestos exaltam ou exageram qualidades por vezes inexistentes de estabelecimentos, destinos e produtos que os patrocinam. Por isto estes pretensos especialistas atendem muito mais aos seus interesses pessoais e financeiros do que os do leitor.

TRÂNSITO INTENSO – Como tubarões atrás de presa, é só surgir boca livre para pintarem os ditos blogueiros no pedaço.

ISENÇÃO E INDEPENDÊNCIA  

O bom jornalismo – e isto se aplica também a blogs – exige isenção e independência, doa a quem doer. Mas é verdade que em setores como Turismo este exercício se torna mais espinhoso. Inúmeros fatores conspiram a favor da manipulação dos fatos e dissimulação da realidade. Eis alguns. O deslumbramento com a geografia e instalações de um novo local. O ambiente acolhedor cercado de gentilezas dos anfitriões. A personalidade cativante dos gestores e sua paixão sincera pelo que fazem. Ou, ainda, o charme irresistível e simpáticos brindes dos profissionais de relações públicas que “vendem o peixe”.

A tentação de viajar de graça e em troca de algumas linhas elogiosas sobre quem paga a conta é forte. Não é à toa que hoje em dia qualquer um que goste de viajar, e ainda por cima de graça, queira ser blogueiro.

Quanto ao consumidor, uma palavra de alento: nada substitui o bom senso. Como peixe estragado, dá para farejar de longe um blogueiro fajuto. Por exemplo, é preciso desconfiar de textos elogiosos demais, cobertos de adjetivos, recheados de marcas comerciais grifadas ou citadas a cada linha. Outro indicador: posts cheios de selfies, autopromoções e “egotrips”, nos quais o próprio blogueiro parece que quer ser mais notícia que o lugar ou fato em si.

Outra coisa: se um transporte, alimentação ou hospedagem for oferecida a título de cortesia (afinal nem todos podem arcar com as despesas) o autor honesto registra esta condição com total transparência.

Finalmente, não é prudente avaliar a importância de um blog apenas pelo número de curtidas. Afinal, ninguém garante a seriedade desta gente anônima que apoia entusiástica e massivamente textos e fotos de pretensos “influenciadores digitais”.

PERGUNTAR NÃO OFENDE – A ilustração inspira fim de noite de boca livre para pseudo-blogueiros?

Comments are closed.