O que antes era considerada uma honra, agora virou um imenso abacaxi. Mesmo diante da oportunidade de ampliar a visibilidade global, ano a ano menos destinos se mostram interessados em entrar nesta “roubada”.
Uma matéria do jornal inglês The Telegraph expõe o problema sem piedade. Revela que metade das seis candidatas a anfitriãs das Olimpíadas que vai ocorrer em 2024 pularam fora do barco. Hamburgo, Roma e Boston desistiram, deixando na disputa apenas Paris, Los Angeles e Budapeste. Mas o número foi ainda mais reduzido, depois que o governo húngaro tomou uma decisão de sair com base numa petição de 260 mil cidadãos que pediu para retirar a candidatura. Acabou numa espécie de acordo de cavalheiros, onde Paris assumiu a realização em 2024 e Londres ficou para 2028.
A queda de interessados a cada temporada é dramática. Basta dizer que em 2008 dez cidades participaram da disputa, vencida por Beijing. Quatro anos depois, Londres enfrentou oito rivais. Em 2016, o Rio disputou com seis. Já para 2020 apenas só três se apresentaram: Tóquio, Madrid e Istambul.
O maior culpado? Custos. Só nos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, a Rússia investiu U$ 50 bilhões – recorde de todos os tempos. Foi mais que os U$ 40 bilhões gastos pela China nas Olimpíadas de Beijing em 2008.
Nem sempre foi assim. Estudo da Universidade de Oxford mostra que entre 1968 e 2010 as despesas com os Jogos eram em média U$ 3.6 bilhões. Mas isto mudou. Nos dois últimos eventos os custos mais que quadruplicaram para U$ 16.2 bilhões. Pior: os orçamentos estouraram em média 167%.
Nas cidades onde Olimpíadas ocorreram, os Jogos se foram, mas os danos financeiros ficaram. Atribui-se aos pesados débitos contraídos em 2004 boa parte dos problemas econômicos enfrentados pela Grécia. Montreal levou 30 anos para colocar seus cofres em ordem depois dos jogos de 1976.
Nem mesmo os ganhos em turismo parecem compensar. Basta olhar as cidades como Atenas, Sidney e Rio, onde hoje áreas construídas para os eventos viraram elefantes brancos, inúteis e sem manutenção.
O Rio de Janeiro é um triste exemplo que todos conhecem. O legado incompleto e decadente que sobrou dos Jogos incomoda até o Comitê Olímpico Internacional. Há instalações provisórias ou com planos pós-evento que jamais se materializaram. Como o centro aquático, o parque olímpico na zona pobre da cidade, em Deodoro. Ou a Vila dos Atletas com seus 3.600 apartamentos abandonados.
Ninguém sabe o que fazer com estes mausoléus. Viraram monumentos que homenageiam o desperdício e a displicência. “Desmontem estas estruturas, pois elas não foram feitas para durar!”, implora Christophe Dubi, Diretor Executivo da organização. Mas quem dá ouvidos a ele?