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Pedro Heilbron, CEO da Copa Airlines, conta como a companhia, com 300 voos diários para 74 cidades de 30 países, conquistou o status de poderosa organização, que contribui com 4% do PIB do Panamá, incrementa o turismo e gera 6,5 mil empregos

Como irmãos siameses, nos últimos 70 anos a companhia aérea Copa Airlines e o Panamá cresceram juntos, e se beneficiaram mutuamente. Por isto é impossível dissociar as duas trajetórias. Nesta simbiose do bem, hoje ninguém sabe mais quem depende mais de quem. Não importa. Se separados teriam menor relevância, juntos empresa e país fazem a diferença. De um lado está um território de apenas 75 mil km2 com 3,5 milhões de habitantes. Do outro, uma companhia aérea com 300 voos diários que atendem 74 cidades de 30 países. A Copa Airlines não é uma simples empresa panamenha, e sim uma poderosa organização que se tornou aliada estratégica do país. Contribui com 4% do PIB, alavanca 6% do turismo, e gera 6.500 empregos dos 10 mil colaboradores da aérea no mundo. “Depois do Canal do Panamá, a aviação é o maior ativo do país”, afirma Pedro Heilbron, CEO da Copa Airlines.

Pequeno istmo que une as Américas do Norte e do Sul, o Panamá entendeu desde a sua fundação, em 1509, que a privilegiada posição geográfica permitia exercitar com vantagem competitiva a principal vocação do país: a conectividade. Ao se consolidar como principal centro de negócios bancários e comerciais da América Central, faltava ainda fortalecer uma perna para completar o tripé. Era preciso viabilizar o transporte aéreo, somado ao terrestre e marítimo, não só para facilitar o livre acesso ao território panamenho, como assegurar a sua plena integração a todos os pontos das Américas. Coube à Copa Airlines exercer este papel.

O Panamá entendeu que países, assim como pessoas, possuem talentos próprios. Alguns contam com apenas com a beleza natural a seu favor. Outros, possuem características únicas que os destacam dos demais. Mas os mais bem-sucedidos são os que não contam apenas com estes fatores, mas também desenvolvem competências exclusivas, e aprendem a tirar melhor proveito de seus diferenciais em benefício do desenvolvimento econômico.
Foi sob as luzes deste conceito que se desenvolveu uma poderosa aliança entre o Panamá e a Copa Airlines que perdura até hoje. Empresa aérea particular inexpressiva até 1947, quando foi fundada com o nome de Companhia Panamenha de Aviação, sua existência pode ser dividida em duas fases. A primeira inclui os primeiros vinte anos, quando se limitou a ligar três cidades do Panamá através de velhos aviões DC-3. A partir de 1966, inicia timidamente operações internacionais na direção de países vizinhos como Costa Rica, Jamaica, Nicarágua e Colômbia. Durante os anos 70, a Copa continua a expansão para outros destinos na região.

Na década seguinte, as boas estradas panamenhas em território tão diminuto fazem a empresa concentrar-se exclusivamente no mercado internacional. Já contando com um velho Boeing 737-100, passa a voar para o Haiti, República Dominicana, Porto Rico e Estados Unidos, através de Miami. Em 1992, já se somam Venezuela, México, Chile, Equador, Peru, Argentina e Cuba.

A história da Copa Airlines poderia ter um desfecho bem mais modesto, compatível com o esperado por uma companhia aérea regional bem-intencionada, não fosse o ano de 1992. É quando o jovem Pedro Heilbron assume a direção da empresa, contando com a total confiança dos acionistas da empresa, a família Motta, vizinhos e conterrâneos da cidade de Colón, com quem o pai já fazia negócios. Aos 27 anos e com um MBA no currículo, Heilbron trabalhava há sete anos para o grupo, seu único emprego de vida, e que buscava sem sucesso um gerente geral para a Copa. Afinal, os Motta resolveram adotar uma solução caseira. A indicação de Pedro como CEO, o que inicialmente poderia ser interpretado como pura sorte de quem estava no lugar certo na hora certa, mostrou-se a mais acertada das decisões. “Quando assumi, a Copa era então formada por dois Boeing 737 – um 200 e outro 100 – de segunda mão, com uma renda anual de 20 milhões de dólares – recorda o discreto, mas sempre simpático dirigente. Apaixonado pelo que faz, ele brinca ao comparar o estilo pinga-pinga ao de “aviões-leiteiros” dos dois a três voos diários, umas três vezes por semana para o Caribe e Colômbia”.

Qual foi afinal o grande momento, o verdadeiro pulo do gato, e que acabou fazendo toda a diferença para o êxito da Copa Airlines? “Decidimos transformar a América Latina, e não mais Miami, em nossa prioridade”, ele revela. Ou seja, as grandes companhias aéreas da época subvalorizaram o potencial dos voos dentro da região. Por isto, não havia conexões nem voos diretos entre os países do continente. Por exemplo, se alguém quisesse voar da Nicarágua para o Lima, no Peru, não tinha opção de voo direto. A ligação entre pontos como de São Paulo com a capital de Honduras poderia levar antes até três dias. Em outros casos era necessário tomar até quatro voos. “Ligações de cidades como Recife a Nassau, nas Bahamas, era um sonho impossível. Com isto, era inviável fazer negócios entre os países da região”, lembra Heibron. De fato, durante muitos anos, Miami, nos Estados Unidos, foi o principal, e não raro o único meio de conexão entre países latino-americanos. Isto mudou radicalmente com a Copa.

A estratégia complementar foi fazer do aeroporto internacional de Tocumen, no Panamá, o “Hub das Américas”, algo que prevaleceu até hoje. O terminal moderno e recheado nos corredores de lojas duty free lembra uma gigantesca centopeia onde cada pata é representada por um portão de embarque. A rotina é parecida. No primeiro momento, voos de todos os lugares chegam ao mesmo tempo ao local. Após intenso troca-troca de passageiros e bagagens, as partidas ocorrem quase que simultaneamente para os novos destinos.  “Quando adotamos o modelo e começamos a conectar os países da região, pensaram que estávamos loucos”, conta Heilbron.

O tempo provou que esta e outras iniciativas de Heilbron estavam corretas. Após uma aliança estratégica com a Continental Airlines, a Copa passa a projetar nova imagem, adotando programa de milhagem e o início da renovação da frota por aviões Boeing 737 Next Generation 700 e 800, e anos depois, adicionando aeronaves Embraer 190. Novos destinos se somam, e a partir de 2005 a empresa passa a ter ações negociadas na Bolsa de Valores de Nova York. Desde 2010 membro da Star Alliance,  a Copa tem hoje 98 aeronaves.

Ao longo dos anos, a empresa acumula seguidos prêmios, como o de melhor linha aérea da América Central e Caribe e serviço de bordo, concedidos pela SkyTrax. Ou como a melhor companhia aérea do México e America Central, reconhecida pelo World Travel Awards. Ou ainda a mais pontual da América Latina (a quarta do mundo), segundo a consultoria FlightStats. Foi reconhecida também pela Airline Business Strategy Awards como a principal liderança regional. Isto sem falar no prêmio Lifetime Achievement Award outorgado pela revista Airline Business a Pedro Heilbron e à Copa Airlines por sua influência na transformação do setor da aviação.

Qual o maior diferencial de sucesso da Copa Airlines? Não há nada espetacular por trás. Mais para feijão com arroz que caviar, a companhia jamais será lembrada por mimos exagerados, mas sim por uma operação honesta e equilibrada. Sem se desdobrar em ofertas mirabolantes ou excesso de mordomias aos passageiros, ela entrega o que a maioria das companhias aéreas promete, mas cumpre. São fatores essenciais para o viajante, como pontualidade, preço justo, aviões modernos e limpos, espaço para as pernas, comida decente, e bons serviços. Além disso, há uma rede de alianças estratégicas que expandem o alcance de suas asas a todos os pontos do planeta.  “Apesar de nossa obsessão por custos baixos e eficiência operacional, não somos uma companhia aérea low cost”, avisa o CEO.

Se há algum calcanhar de Aquiles na operação redonda da Copa Airlines, é sua dependência imensa do Aeroporto Internacional de Tocumen. Como seu principal e único hub, o terminal, com uma administração cheia de altos e baixos, está sob total controle do governo panamenho. Este é, por sinal, um problema que o Brasil está se liberando, graças ao programa de concessões de aeroportos à iniciativa privada. No Panamá, no entanto, é diferente. A estratégia logística e de crescimento da Copa está intimamente associada aos investimentos públicos realizados em infraestrutura aeroportuária do país e decisões políticas governamentais. Assim, bastaria um atraso no cumprimento do cronograma de expansão do aeroporto previsto para terminar em 2017, ou a criação de uma sobretaxa para financiar a construção, ou mesmo estimular a concorrência por outras companhias aéreas, para afetar diretamente os planos de negócios da Copa, hoje a maior beneficiária do terminal. No entanto, o risco parece neste momento minimizado, a começar por reconhecimentos públicos que atribuem a Tocumen o título de melhor aeroporto da América Central, e um dos 100 no mundo.

Uma recente aquisição pela Copa Airlines de 61 aeronaves Boeing 737 MAX 8 e 9 por U$ 6,6 bilhões, parte para substituir aviões e outra para atender futuras demandas, mereceu manchetes no mundo inteiro. Pela importância, a assinatura da compra contou até com a presença dos presidentes do Panamá, Juan Varela, e dos Estados Unidos, Barack Obama. O valor é tão expressivo que supera até os investimentos feitos para a recente expansão do Canal do Panamá, em torno de U$ 5.2 bilhões. “Estaremos agregando oito aeronaves por ano a partir de 2018”, comemora Pedro Helbron. Nada mal para uma empresa que até 1998 faturava U$ 20 milhões com seus dois aviões usados, e hoje possui 98 aeronaves estado da arte que geram quase U$ 3 bilhões de renda anual.

Panamá, terra da conectividade

Tudo começou em 1509, quando o Panamá viabilizou através de seu privilegiado território o tráfego do ouro do Peru, além de pessoas e mercadorias entre as colônias e a Espanha. Com a separação da Colômbia em 1903 e a inauguração do Canal do Panamá, o país mais uma vez promoveu o seu diferencial de conexão. Com foco em serviços no setor bancário, comércio, em especial o da zona livre de Colón e turismo – são 2,5 milhões de visitantes por ano – o país conta ainda com sua posição de centro de conectividade digital das Américas. Ali sete importantes cabos submarinos de fibra óptica integram as telecomunicações e informática entre as Américas, e estas com o Caribe e o resto do mundo.

Uma frota de respeito

Desde 1998, a Copa Airlines mantém um programa de modernização contínua de seus hoje 98 aviões, formados por 18 Boeings 737-700, 54 modelos 737- 800 e 26 aviões Embraer 190. São 300 voos diários, incluindo 12 para os Estados Unidos, 9 para a Colômbia, 6 para Cuba, e 12 para o Brasil. A bordo, 12 canais de vídeo em espanhol, inglês e português. O serviço de refeições é honesto, com direito a vinhos e licores, e que se não chega a encantar, tampouco decepciona. Há ainda uma classe Executiva com cozinha internacional, tratamento prioritário de bagagem e check-in. A empresa controla ainda a Copa Airlines Colombia.

O poder das alianças

Uma andorinha sozinha não faz verão. Esse bem que poderia ser o lema das alianças estratégicas que a Copa Airlines mantém com outras companhias aéreas. Os oito voos diretos do Panamá a cidades brasileiras se integram a mais 29, fruto de acordo com a GOL. O mesmo ocorre com os 12 voos diretos ao Caribe, que por sua vez podem se complementam a 500 cidades nos Estados Unidos e no mundo através da United. Isto sem falar na Star Alliance, que agrega ao portfólio 1100 destinos de 100 países. Quem está à frente deste jogo de xadrez que tem o mundo como tabuleiro é Pablo de La Guardia, diretor sênior de relações com o governo e alianças estratégicas da Copa Airlines. Além da GOL, United e Star Alliance, ele também negociou a ampliação da rede com a Aeromexico e KLM, entre outras. “Nossa meta é estabelecer a principal plataforma de conectividade logística das Américas, seja ela aérea, marítima, terrestre ou digital”, ele conclui.

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