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Talvez para distrair alguns passageiros com medo de avião, ou quem sabe dar aos demais algo para fazer nos voos, surgiu o entretenimento de bordo. Seja lá a razão, o fato é que seu desenvolvimento ocorreu junto a indústria aeronáutica.

Em 1936, a aviação comercial dava os primeiros passos.

Foi neste ano que o dirigível Hindenburg embarcou um piano para distrair viajantes pelos então quase três dias de travessia entre Europa e América. Estava dado ali o primeiro passo de um processo de diversão a bordo que nunca mais parou. Outro marco ocorreu após a Segunda Guerra, quando as companhias aéreas passaram a incluir filmes nos percursos mais longos.

 Eram tempos heroicos que as empresas mais retrógradas insistem em manter até hoje. O entretenimento de então era sinônimo de driblar cabeças das poltronas dianteiras e gente passando pelos corredores. Valia de tudo para assistir filmes com imagens mambembes e som precário em telão coletivo instalada na frente da cabine.     

Até mesmo as telinhas individuais de hoje nas poltronas dos aviões, que já foram consideradas uma grande conquista, estão rapidamente se tornando obsoletas. Perdem espaço para a tecnologia móvel, que tornou possível ao passageiro curtir entretenimento durante o trajeto através de seu smartphone, tablet ou notebook. 

A fome se juntou com a vontade de comer. Do lado das companhias aéreas, com a chegada do conceito BYOD (sigla de “bring your own device”, ou “traga seu próprio dispositivo”), não há ninguém mais feliz. Primeiro, porque se livram de equipamentos caros, que podem custar 3 milhões de dólares por aeronave. Isto sem falar no labirinto colossal de fios que exigem manutenção constante.

 Além disso, sem as telas individuais nas poltronas há grande redução de peso. Isto se traduz em economia de combustível, estimado pelo Wiglaf Journal em 90 mil dólares por ano (preço do querosene internacional, bem mais barato que o brasileiro). E de quebra, o BYOD também abre oportunidade para as aéreas ganharem um trocado nada desprezível na comercialização de produtos e serviços, justamente quando o viajante, imobilizado na sua poltrona, torna-se presa fácil. E quem sabe ainda conseguem alugar tablets para quem não trouxe o seu?     

O passageiro também tem muito a ganhar com a novidade. Graças à conectividade viabilizada pela intranet a bordo, acessa com qualidade vídeos, músicas, ou solicita serviços internos. Como se comunicar com comissários de bordo, inclusive os antes mais arredios aos chamados insistentes pelo botão acima do assento. 

Dispositivos móveis a bordo viraram lugar comum. Uma pesquisa da FlightView indica que mais de 80% dos passageiros de avião nos Estados Unidos levam a bordo um smartphone, enquanto 40% um notebook, e 37% um tablet. Estima-se que no Brasil a tendência é parecida.    

Um estudo da Future Travel Experience concluiu que até 2025 todas as aeronavescontarão com conectividade. Isto significa não apenas entretenimento a bordo, mas pleno acesso à internet. Contando com isto, as companhias aéreas começaram a instalar tomadas individuais para a recarga de smartphones, inclusive na classe econômica. Além disso, as principais no mundo já oferecem uma biblioteca de filmes e programas de tevê acessíveis por dispositivos pessoais. Para isto só é necessário, antes de embarcar, fazer download de um App, e para os mais exigentes, trazer os próprios headphones.

O Brasil não está parado. A LATAM investiu nos últimos dois anos 100 milhões de dólares em tecnologias para melhorar a experiência do cliente, o que inclui o entretenimento a bordo. O App da empresa permite ao passageiro assistir através de streaming meia centena de filmes e outros tantos episódios de séries, além de acompanhar o mapa de voo. A GOL tem planos na mesma direção, mas aposta no acesso wi-fi através de satélite. Com isto, abre portas não só para assistir canais de tevê ao vivo como ao streaming, com todo tipo de aplicação, entretenimento ou profissional.

A Azul, pioneira em oferecer TV ao vivo nos voos nacionais, assim como manter o entretenimento tradicional para os internacionais, não revela planos imediatos na modalidade BYOD. O mesmo ocorre com a Avianca, que pretende manter no momento o que já oferece.

Dispositivos eletrônicos, quem te viu, quem te vê! Antes, eram inimigos da aviação pela potencial interferência nos equipamentos de bordo. Agora, tornaram-se queridinhos das companhias aéreas na busca da satisfação do passageiro e – por que não? – a mais nova fonte de receitas financeiras.  

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