O que ocorre em uma festa onde há mais convidados que comida? Ou o inverso: o evento tem mais acepipes que presenças? E se a gastronomia for deixada em mãos amadoras? Claro que nenhuma das opções é aceitável. No entanto, situações como estas viraram rotina em eventos de turismo no Brasil – assim como em outros setores da economia. Afinal, isto é falta de bom senso ou puro amadorismo?
Extravasam pelo país dezenas de feiras e congressos no mercado turístico. Há dois tipos. O primeiro é dos sérios, voltados a realizar negócios, geralmente promovidos por associações de classe, como agências de viagens, hotelaria, operadoras de turismo, etc. O segundo grupo inclui encontros de picaretagem explícita – destes que distribuem prêmios a roldo para tolinhos ególatras.
É verdade que só vai quem quer. Só que na prática não funciona assim. O ambiente anda tão confuso que se tornou desafio distinguir o que merece atenção do descartável. A realidade é que em um mercado carente de recursos ninguém dispõe de tempo e dinheiro para desperdiçar em encontros inúteis ou redundantes.
Considerando-se apenas os eventos sérios, há duas razões para sua realização. A primeira é inquestionável: criar oportunidade para se fazer negócios e um ambiente apropriado para relacionamentos profissionais.
Já a segunda explicação nasce enviesada. Não tem sentido uma feira de negócios cuja meta principal é fazer caixa para a sobrevivência econômica da associação. Ou seja, inventar um evento para compensar a baixa taxa de aderência e contribuições insuficientes dos associados.
É tão absurdo como uma barbearia que vai mal das pernas abrir um restaurante para ajudar a pagar as contas. Com isto, os representantes das associações acabam gerando monstrengos. Isto os obriga a dispensar energias não no foco de interesse da categoria, mas em atividades estranhas ao core business.
Na contramão do amadorismo há bons exemplos, como a WTM (World Travel Market). Trata-se de uma feira de turismo profissional com farta experiência internacional, e que a cada ano amplia também a presença no Brasil. Com sede na Inglaterra, onde surgiu há 40 anos, a meta é gerar oportunidades para expositores, compradores e profissionais se conhecerem e fazer negócios.
Esta organização líder funciona como vitrine qualificada. Expõe por três dias ao ano o melhor em tecnologias, destinos, produtos e serviços do setor. A sua credibilidade atrai clientes tradicionais da indústria mundial visando facilitar negociações com operadoras, agências e provedores locais.
“Não queremos ser vendedores de estande, mas trazer oportunidades de negócios e concretizar resultados para os clientes”, sintetiza Luciane Leite, diretora da WTM para a América Latina. Não se trata de qualquer pessoa, mas de uma profissional com amplo reconhecimento pelos serviços prestados ao turismo. Ela comemora os resultados do 6º encontro da organização, realizado em São Paulo em abril de 2018. Com crescimento de 7% em relação ao ano anterior, o evento atraiu 12 mil profissionais qualificados.
A WTM traz para o turismo brasileiro um novo padrão de negócios, em linha com os destinos internacionais bem-sucedidos. Por isto provoca reações emocionais, às vezes infantis, dos que se assustam com mudanças de paradigmas.
Há os que recorrem até a apelos nacionalistas, pretexto para tentar congelar práticas obsoletas e disfuncionais. É tão absurdo como questionar a presença de elefantes em solos pátrios e conclamar o seu retorno às origens na África.
Existe um benefício adicional, mas intangível, da presença da WTM no Brasil. É o que obriga cada organizador e expositor acostumado à velha rotina a um encontro de contas consigo. Isto implica em separar o que é pessoal do profissional, e questionar que tipo de retorno busca nos eventos. O objetivo seria apenas se beneficiar das mordomias do cargo, como ser reverenciado pelos pares, receber prêmios, e convites para viagens de familiarização? Ou a meta é alcançar resultados efetivos para os seus negócios?