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Todo início de ano um previsível ritual se repete, com a cumplicidade de uma imprensa que carece do que falar. Trata-se de uma choradeira programada do comércio, representado por Arautos do Apocalipse, que lamenta o prejuízo que os feriados prolongados irão causar à economia brasileira. No contra-ataque, pipocam porta-vozes oficiais e oficiosos do turismo, que como Reis Momo de uma folia à vista, comemoram, com evidente exagero os resultados que estas datas trarão ao setor.

Nem um nem outro é dono da razão. Para começar, porque no país dos cálculos faz-de-contas, ambos duelam com valores nada confiáveis para provar suas teses. Com estas armas de brinquedo, travam uma batalha inócua. No duro ninguém sabe, nem questiona, como foram fabricados. O consumidor, a quem resta o inativo papel de Donzela Prometida, é obrigado a assistir a este espetáculo de gosto duvidoso. Ouve argumentos fajutos dos dois lados, sem saber ao certo a qual deles dar a razão.

É muita água para um pequeno copo. Afinal, estamos falando em média de apenas 10 feriados prolongados no Brasil em 52 semanas do ano. Isto não chega a ser diferente de países como Estados Unidos, Canadá, França, Itália e Suécia, segundo a consultoria norte-americana Mercer. Há casos piores, como por exemplo os vizinhos de continente Colômbia, com 18 feriados, e Chile que contabiliza 15, e nem por isto suas economias vão mal – bem pelo contrário.

Se é verdade que principalmente segmentos como o de vestuário deixa de ganhar nos feriados, em compensação outros, como combustíveis, transporte e viagens tendem a ampliar suas receitas. Neste curto período de dias com portas fechadas, o dinheiro do consumidor não some; apenas muda de mãos e endereço. Mas convenhamos: o consumo de roupas, sapatos e afins não se evapora por causa do feriado. Possivelmente ocorre antes ou depois das datas. Ou seja, mera transposição de dias.

Na verdade, a reclamação dos comerciantes mira outro alvo maior: os altos custos dos salários para funcionar nos feriados devido a uma legislação trabalhista obsoleta. Ninguém tem culpa, muito menos o consumidor, se ao atirar em um coelho acerta uma cenoura. E outra coisa: depois do comércio online, aberto 24 x 7, lojas físicas fechadas não impedem o consumo de ninguém. Pelo contrário: em países onde esta modalidade está mais consolidada, é nestas datas que o desempenho das vendas cresce.     

Por outro lado, é tremenda falácia dizer que o turismo brasileiro automaticamente ganha com os feriados prolongados. A começar pela costumeira falta de pesquisas confiáveis. Como é possível afirmar com um mínimo de segurança quem vai viajar, e para onde, sem dados que comprovem a tese? Trata-se sim de conjecturas, que por mais bem-intencionadas, continuam a tratar esta poderosa indústria com amadorismo.

Enquanto isto, destinos internacionais estão cada dia mais profissionalizados, e assim conquistam mais brasileiros. Muitos deles, por sinal, que visitam estes países exatamente nos feriados prolongados que o comércio se debulha em lágrimas pela perda de renda, enquanto agentes turísticos comemoram os ovos que a galinha sequer botou. 

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