No Brasil estima-se que sete de cada dez hotéis são independentes. O que isto significa hotel independente? Trata-se de empreendimento em geral com uma unidade, e não associado a uma rede hoteleira. É o oposto do que ocorre nos Estados Unidos. Lá as grandes cadeias de hotéis praticamente dominam o setor.
Não é fácil brigar sozinho contra o mundo. Tal qual passarinho exposto às intempéries, é conveniente proteger-se sob as asas de uma boa operadora hoteleira. “É uma fórmula vencedora, pois as redes têm grande expertise”, explica o consultor Roland de Bonadona, ex-CEO para a América Latina da rede Accorhotels, onde fez brilhante carreira de 42 anos.
A atuação em rede viabiliza importantes ganhos de escala para os hotéis. Como redução de custos e promoção da marca. Ou ampliação da competitividade, algo crítico em um mercado cada vez mais engolido por poderosas agências de viagens online (OTAs). Elas costumam engolir não só o café da manhã, mas também o almoço e jantar dos pequenos hoteleiros.
Para o investidor as redes oferecem também benefícios. Primeiro, trazem tranquilidade financeira. Além disso, estabelecem ambiente mais profissional e seguro que hotel independente, onde por vezes ficam em mãos incompetentes. Ou então se submetem a uma gestão cheia de idiossincrasias por parte do proprietário. Finalmente, as redes ainda oferecem perspectivas de captação, desenvolvimento e retenção dos melhores talentos.
Mas a vida de hotéis em rede carrega armadilhas para o usuário. A pior é o risco de se instalar em uma unidade que lembra um McDonald’s de hospedagem. Ali, parece que ninguém pensa ou cria nada. Ao contrário, limita-se a seguir uma “bíblia” onde predomina a padronização burra. É nestes casos que nasce o principal argumento – e oportunidade – dos hotéis independentes. Eles prometem – e nem sempre cumprem – criar para o hóspede experiências únicas e diferenciadas.
Bonadona questiona: “Não existe mais esta questão da padronização. Todas as redes sabem da necessidade de localizar e personalizar seus hotéis”. Para ele, há hoje “soft brands” e contratos de franquias que minimizam o problema. “São acordos leves e adaptáveis para que os hotéis possam manter estilo próprio e autonomia de gestão. Com isto juntam sua criatividade com as vantagens das redes”.
Se há tantos benefícios das redes, persiste uma pergunta teimosa. Por que nove entre as dez maiores operadoras internacionais têm presença tão tímida no Brasil? Exceto a própria Accor, nenhuma demonstra apetite para se expandir no país. Afinal, trata-se de de um dos dez maiores PIBs do turismo mundial – incluído aí o mercado doméstico.
De fato, a maioria das redes internacionais tem reduzida base de suporte ou operação própria. Geralmente sua atuação no mercado brasileiro ocorre de duas maneiras. Ou são franquias – como Hilton, Radisson, Starwood e Widham– ou são flagships na categoria upscale – a exemplo do Intercontinental, Marriot ou Hyatt. Em um mercado tão ávido por hotéis midscale e econômicos, estas políticas soam tão extravagantes como alguém ir a um banquete e só comer a sobremesa.
Por que isto ocorre? “O Brasil é uma ilha com regras próprias, sejam fiscais, burocráticas, trabalhistas, legais. As empresas hoteleiras que conseguiram se implantar aqui apelaram a parcerias com players locais”, continua Roland. “Para darem certo, as operadoras internacionais deveriam flexibilizar o modelo de negócios, sem impor produto, contrato, tarifas e regras”, ele conclui.
Por outro lado, o setor de hospitalidade está muito atrasado em relação ao mundo. Por exemplo, não existe um plano nacional de desenvolvimento. Há excesso de associações de classe – algumas incompetentes ou inoperantes. Faltam plataformas patrimoniais, onde hotéis de proprietários seriam geridos por grandes operadores. E o poder público ainda atrapalha ao criar empecilhos para a operação, ao invés de facilitar a vida dos investidores.
“Hotelaria é um negócio difícil. Exige grandes investimentos. Opera 24 x 7 em 365 dias do ano, com clientes que ficam apenas dois dias. Por isto, requer um ambiente de negócios menos burocrático, com leis trabalhistas flexíveis e legislação adaptada ao setor”, conclui Bonadona.
2 Comments
Como viajante, prefiro sempre que possível os pequenos hotéis independentes, muito mais acolhedores e menos impessoais. Grandes cadeias só mesmo em último caso.
Abraço e boas viagens
Filipe para mim há vantagens e desvantagens nos dois tipos de hotéis. Em lugares com condições higiênicas ou de grande inseguranca hotéis de rede podem funcionar como um porto seguro e garantia alimentar por exemplo. Já em destinos consagrados o hotel independente permite uma experiência diferenciada e fora da mesmice de uma rede tradicional.