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Primeiro as pessoas começaram a falar com as máquinas, que por sua vez estão aprendendo a se comunicar direto, sem interferência humana. É a internet das coisas. Festejada por quem espera coisas como geladeiras programadas a fazer compras no supermercado para reabastecer a casa. Glamour à parte, e se um dia as máquinas se descontrolarem, aceitando comandos via wireless de criminosos virtuais, e começarem a agir contra os interesses dos donos?

Não se trata de ficção científica. Há indícios de que isto vai ocorrer e uma real preocupação com a potencial interferência maliciosa em inocentes produtos de  consumo. Com a integração de dispositivos inteligentes em objetos do cotidiano, o impacto de componentes digitais e a internet das coisas farão com que as pessoas tenham que se preocupar com o comportamento esquisito de liquidificadores, torradeiras ou televisores.

 Nesta incorporação crescente de novas tecnologias digitais em produtos de consumo, nenhum é merece mais atenção que o automóvel. Hoje transformado em computador online, similar ao smartphone ou notebook, pode ter vulnerabilidades de software passíveis de ataque de hackers, seja através do bluetooth, Wi-Fi ou conexões com celulares. Pesquisadores já demonstraram que através do envio de um simples SMS dá para alterar o sistema de controle dos freios de um veículo.

Não se trata de um caso isolado. A invasão digital em software automotivo possibilita aos criminosos digitais acesso total ao veículo. Uma pesquisa da Trend Micro, empresa especializada na defesa de ameaças digitais, indicou que automóveis com sistemas de internet podem sofrer manipulação remota.

Um teste feito no sistema SmartGate, da Skoda Autos, que permite aos motoristas conectarem um smartphone ao carro para obter em tempo real dados como velocidade e quilometragem pode ter suas configurações alteradas à distância. Basta identificar a rede wi-fi do veículo e decifrar a senha. Qual a consequência? O acesso ao sistema pode ser bloqueado, e o carro desde deixar de funcionar até agir como cachorro louco. 

Pesquisadores de segurança encontraram também falhas no sistema de conexão 3G da Jeep Cherokee, o que obrigou a Chrysler a fazer um recall de 1,4 milhão de veículos. Nem a prestigiada BMW passou pelo teste da segurança no seu sistema ConnectedDrive, criado para o desbloqueio remoto do carro, o que poderia afetar 2,2 milhões de unidades.

A ameaça torna-se ainda mais assustadora quando o mundo se prepara para ter em dez anos um trilhão de dispositivos conectados. Através de sensores e microchips, eles são capazes de receber dados por wireless em  casas, roupas, e até dentro de seres humanos, inclusive cérebros. É isto mesmo: nossos corpos estão se tornando cada vez mais sujeitos a cyber-ataques. Gente com implantes de todo tipo, desde membros biônicos, marca-passos até bombas de insulina, podem se tornar potenciais vítimas de sequestros. Até o rigoroso FDA já demonstra preocupação sobre a vulnerabilidade da segurança cibernética em dispositivos médicos.

Mas calma nesta hora. Nem tudo é má notícia. É evidente que os benefícios tecnológicos dos componentes inteligentes, garantidas as salvaguardas de segurança, superam largamente os eventuais riscos. Isto inclui não só a preservação de vidas, mas até a redução de acidentes de veículos. Por exemplo: algumas companhias de seguro norte-americanas já reduzem o prêmio a veículos que usam a internet das coisas para monitorar hábitos dos motoristas, como maneiras de dirigir, mudanças bruscas de velocidade, ou horas gastas por dia ao volante.

É verdade que os inúmeros “furos” de segurança nos dispositivos colocados no mercado são um convite para ações cibernéticas criminosas. Mas isto não seja a ser uma novidade. Como sempre ocorreu, não é a tecnologia em si que provoca estragos, mas sim a forma como é utilizada. Trata-se, portanto, de outra batalha contra o tempo entre as forças do Bem e do Mal.      

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