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Ninguém discute a beleza natural da ilha de Fernando de Noronha. Não é à toa que este paraíso geográfico é mencionado por todas publicações de turismo e blogueiros de plantão.

Mas o que pouca gente comenta é sobre a infraestrutura precária e os preços absurdos, resultado de gestões equivocadas que se sucederam ao longo dos anos.

 

Com apenas 17 km2, a ilha vulcânica ocupa 90% do arquipélago que fica a 350 quilômetros da costa brasileira.

O LADO BOM

Considerada santuário ecológico e Patrimônio da Humanidade, é administrada por um representante indicado pelo Governo de Pernambuco.

Há também um parque nacional sob os cuidados do Instituto Chico Mendes. Com pouco mais de três mil habitantes, Noronha recebe anualmente quase 100 mil turistas.

Em 2015 eles deixaram nos cofres do governo local 30 milhões de reais – R$ 25,2 milhões em taxa de preservação ambiental (TPA). Ela penaliza progressivamente quem fica mais tempo na ilha, chegando a 4.847,62 para quem se instalar por um mês – e quase R$ 4,8 milhões em ISS. 

O que foi feito com os recursos captados no ano passado? 

Rodrigo Valença, Superintendente de Tecnologia, Orçamento e Finanças do governo da ilha informa que foram aplicados nas áreas ambiental e social, além de obras de infraestrutura de Saúde, Educação e Turismo.

O LADO RUIM

Na teoria o sistema parece perfeito. O governo estadual cuida da administração do local, os ecologistas zelam pelo ecossistema, e os turistas geram os recursos para pagar as contas.

Só que na prática, isto não funciona desta forma. Os problemas da ilha se avolumam e são bem mais sérios. Assim, existem duas realidades. A primeira é a Noronha percebida pelo turista, geralmente endinheirado, e que sai encantado com a visita.

A segunda, a real e mais cruel, é a Noronha que convive com a ausência do poder público. São as ruas esburacadas e intransitáveis nas épocas de chuva, talvez o maior símbolo da inoperância de serviços básicos da ilha. E que também sofre com o crônico abastecimento de água.

Tem ainda a população desassistida, vítima de uma burocracia impiedosa que impede até a troca de um vaso sanitário sem passar por uma via crucis administrativa. Some-se um custo de vida infame criado artificialmente por falta de oferta. Isto poderia ser corrigido por canetadas inteligentes de políticas públicas.

O que mais surpreende é a inexistência de um plano de ação consistente que alavanque o alto potencial turístico da ilha, sua verdadeira vocação. Triste sina: Noronha é hoje prisioneira de uma ditadura conceitual de ecologistas xiitas. Eles parecem mais interessados em proteger e valorizar a natureza que o próprio ser humano.

O resultado é a predominância de um turismo elitista, limitado ao acesso caríssimo através de apenas 32 voos semanais. Há ainda uma hotelaria que oscila entre reduzidas acomodações com qualidade a preços extorsivos e vagas em sofríveis alojamentos ou quartos adaptados de antigas casas de pescadores. E claro, sem falar nos custos muito além do razoável.

Os restaurantes cobram o que querem, até mesmo de pratos à base de peixe, o que convenhamos, é algo abundante no entorno da ilha. Os supermercados, geralmente monopolistas, também metem a mão no bolso dos ilhéus.

As coisas são absurdamente caras em Noronha. Até os ovos e frutas a tijolos e areia de construção são importados do continente por conta de uma legislação ecológica radical.

Ninguém descreveu melhor a situação crítica do local que a jornalista Ciara Carvalho. Ela foi Prêmio Esso em 2011 pela reportagem Paraíso Às Avessas, publicada no Jornal do Commércio, de Pernambuco . Infelizmente, a dramática situação registrada por ela há cinco anos continua atual.

Há mais de um milhão de ilhas no mundo, e não faltam bons exemplos de países que encontraram um ponto de equilíbrio entre a preservação ecológica e o turismo responsável. Não precisa ir longe.

Na América do Sul mesmo o arquipélago de Galápagos, no Equador, prova isto. Ali convivem em harmonia plantas e animais raros com habitantes e turistas. Os visitantes chegam diariamente em grandes volumes por ar e mar sem que a natureza seja comprometida.

Em 2015 mais de 220 mil visitantes, 70% deles internacionais, lá estiveram. E isto apesar do lugar perdido no extremo oeste do Oceano Pacífico, numa distância que é o dobro de Fernando de Noronha ao continente.

“Todo mundo quer ser dono desta ilha”, desabafa José Maria Sultanum, proprietário de uma das principais pousadas de Noronha. Ele nomeia estes tais pretendentes: IPHAN, ICMBio, CPRH, Ministério da Aeronáutica, Patrimônio da União, Governo de Pernambuco.

De fato, uma barafunda de poderes públicos parece disputar o direito a ditar regras, resultando num festival de desmandos, o que só serve para prejudicar e até paralisar a ilha. 

Em contraste, é visível como uma iniciativa privada, quando bem-intencionada, pode contribuir para o desenvolvimento sustentável do turismo.

Ali, tanto o aeroporto como o Parque Nacional, ambos sob concessão, se destacam do resto do marasmo operacional. Investiram em instalações e capacitação de pessoal. Tornaram-se um oásis de eficiência em um território que, não fossem os desmandos e omissões oficiais, teria tudo para dar certo.

1 Comment

  1. Caroline Cerqueira disse:

    Estava pesquisando sobre Fernando de Noronha, e fiquei de boca aberta, como essas taxas são abusivas, as pousadas com infraestrutura básica, e preços exorbitantes, e o local carece de boa infraestrutura e plano de ação, um lugar 100% elitizado, e palco para gringos.