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A ideia não poderia ser mais atrativa: criar veículos capazes de dirigir sem motorista. Quem não gostaria de evitar o tempo estressante desperdiçado atrás do volante no trânsito pesado das cidades ou em estradas sem fim? No caminho da solução, pesquisadores do Google e marcas de peso no automobilismo descobriram que o maior problema do carro autônomo são as pessoas.

Depois dos vários incidentes com protótipos, os engenheiros perceberam a tendência humana – e popular em países como Brasil – de ignorar regras de trânsito em ruas e estradas. Nem com a ajuda de câmeras, lasers, radares e tecnologia embarcada nos carros para analisar o ambiente externo e tomar as decisões parecem ajudar. Elas teriam que contar com um “jogo de cintura” capaz de interpretar o comportamento imprevisível dos homens. 

Em um dos primeiros testes, o carro sem motorista da Google ficou preso por horas em um cruzamento, à espera de que os demais veículos vindos de todas as direções dirigidos por gente fizessem uma parada completa nas interseções das vias, como manda a lei. Claro que isto jamais ocorreu.

 Nos poucos casos de choque de carros autoguiados com outros veículos as falhas foram causadas pelos homens, não pela tecnologia. Foram situações corriqueiras, como gente impaciente ou imprudente, que ultrapassa os protótipos que teimam em se locomover na velocidade reduzida indicada nas placas. Ou então foram batidas na traseira devido a freadas súbitas, mas corretas de acordo com as normas, como um obstáculo à frente, ou um pedestre tentando atravessar a rua.  

Aquilo que na teoria das pesquisa, desenvolvimento e testes parecia perfeito na prática mostrou-se um fator bem complexo. A conclusão é que no mundo ideal onde só trafegassem carros autoguiados, em um trânsito sem espaço para malandragens ao volante, o índice de acidentes se reduziria radicalmente. “O carro autônomo é seguro demais, mas precisa aprender a ser mais agressivo na medida certa, algo que depende de fatores culturais”, resume Donald Norma, da Universidade da Califórnia.

Persiste assim um intrigante debate entre os pesquisadores. Eles devem programar os veículos autônomos para obedecer a lei sem exceções, ou permitir que cometam pequenas infrações de trânsito para se alinhar aos motoristas de carne e osso? “Resolvemos manter os limites de velocidade, mas nas estradas não há quem não ultrapasse os carros autônomos. Eu mesmo seria uma destas pessoas”, confessa Raj Rajkumar, diretor do laboratório de pesquisas General Motors-Carnegie Mellon, de Pittsburgh.

Uma pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisas de Transporte da Universidade de Michigan concluiu que o índice de acidentes com os carros em teste é o dobro dos regulares. Segundo o estudo, a culpa das colisões em baixa velocidade nas traseiras nunca foi dos veículos autônomos, mas sim “ de humanos desatentos e agressivos, desacostumados a motoristas-máquina que sempre seguem as leis e dirigem com prudência”. A melhor definição sobre o comportamento dos protótipos é de Dmitri Dolgov, engenheiro-chefe do programa da Google: “Eles dirigem com a cautela típica de alunos de autoescola ou de uma tiazinha”.  

 A comercialização de veículos autoguiados é uma questão de tempo. Enquanto o Google alega que carros que dependem de inteligência artificial são mais seguros, as montadoras preferem uma progressão gradual na direção da condução autônoma.

Assim como a citada barreira do comportamento, outras precisam ser transpostas. De acordo com a BI Intelligence, as três principais são o preço salgado dos componentes de alta tecnologia, o nível de confiança do consumidor nas novas tecnologias, e a ausência de leis sobre o assunto.

Em relação a legislação, um dos primeiros problemas enfrentados pelo carro autoguiado da Google foi ser parado por um policial por atrapalhar o trânsito ao dirigir muito abaixo da velocidade permitida. O oficial então se deparou com uma questão: é possível multar um robô?

Isto não aconteceria agora, pelo menos nos Estados Unidos. Lá, as autoridades de segurança do tráfego rodoviário acabam de concordar que um robô atende bem à definição legal de “motorista”. Não é muito, mas já é um bom começo.

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