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MURALHA HUMANA - que turista tem vontade de fazer passeio tão tumultuado na muralha da China?

Como praga de gafanhotos, cidades de interesse turístico estão sendo invadidas. A ocupação predatória e descontrolada até ganhou nome: over-turismo.

Este fenômeno ocorre sempre que uma cidade atinge sua capacidade de máxima de visitantes. Passa então a conviver com trânsito humano, filas intermináveis nos pontos de interesse, e custo de vida alto, entre outros fatores. Com isto, torna-se nada hospitaleira para quem chega, e insuportável para quem nela mora. Um estudo da agência holandesa TravelBird apontou Barcelona (Espanha) com a maior vítima do over-turismo. Ela é seguida por Mumbai (India), Amsterdam (Holanda), Veneza (Italia) e Hanoi (Vietnam).

Ninguém quer eliminar o turismo, mas buscar o equilíbrio. Ou seja, evitar que o excesso de visitantes afete a preservação das cidades e a qualidade de vida dos moradores.

PRAGA? – há cidades que já comparam o turismo em massa com invasão de gafanhotos.

Turismo em expansão 

O turismo mundial dobrou em 15 anos para 1.2 bilhão de pessoas por ano. Seduzidos pelos gastos dos visitantes, destinos como Barcelona, Veneza e Reykjavík, esqueceram de se equipar para as consequências.

No Brasil, há bolsões isolados de over-turismo. É o caso de Ilhabela, no litoral paulista. A cidade não aguenta mais o caos que multiplica a população de 40 mil por quatro a cada feriado. Falta d’água, blecautes, e engarrafamentos colossais levaram a cidade a estuda medidas restritivas, como rodízio de veículos.

Mas há casos de sucesso. Como Bonito, no Mato Grosso do Sul. Sem se deixar seduzir pelo canto da sereia, a cidade estabeleceu cotas para as principais atrações e encantos naturais. Já o arquipélago de Fernando de Noronha combinou taxas, restrições e custo de vida extorsivo, e que na prática inviabiliza a visitação em massa.

BONITO – a cidade de Mato Grosso do Sul dá exemplo de harmonia entre turismo e preservação ambiental

Soluções para over-turismo

Será o over-turismo insolúvel, ou há fórmulas de promover o turismo sustentável? A Skift, empresa de inteligência da indústria de viagens, indicou cinco tendências.

A primeira é limitar as opções de transporte. As companhias aéreas low-cost e os meganavios promovem hoje inundações humanas instantâneas em cidades turísticas. Por exemplo, o número de 100 mil cruzeiristas por ano durante os jogos olímpicos de Barcelona deve saltar para 2.7 milhões em 2016. É para fugir de situações análogas que Veneza decidiu proibir que cruzeiros atraquem no seu porto central.

OVER-TURISMO EM VENEZA – multidões se empurram na vã tentativa de curtir a cidade que encanta gerações

A segunda tendência para evitar o over-turismo é tornar a cidade mais cara. Além do barateamento dos transportes de massa, serviços de “homesharing” como o Airbnb reduziram os custos de hospedagem. Países como a Islândia – hoje com mais turistas que habitantes – incentivam acomodações de luxo, para trocar maior número de turistas pelos mais endinheirados. As cidades estudam ainda aumentar a taxação de hotéis, locação de apartamentos e cruzeiros em alta estação. Pontos de elevada visitação como as ilhas Galápagos e Machu Picchu já adota a fórmula há décadas.

FONTANA DE TREVI – com tanta gente na frente não dá nem para jogar a tradicional moedinha na água da fonte

A Skift também identificou o uso crescente do marketing e educação para administrar os efeitos negativos do over-turismo. New York desenvolveu uma campanha que canaliza hordas excessivas de visitantes de Manhattan para o Brooklin. Outro desafio das cidades é melhorar o próprio viajante, que nem sempre se comporta e respeita lugares e tradições.

Desunião crônica

Está em alta também maior colaboração entre os interessados em contornar o over-turismo. O melhor exemplo é o Brasil, onde uma crônica desunião da indústria faz as “tribos” cuidarem apenas dos próprios territórios. Falta uma organização única para a gestão integrada dos destinos.

A quinta, e mais óbvia das tendências, é proteger as áreas com grande trânsito de turistas. Assim, Barcelona criou regras para os tours, como limitar o tempo de permanência de grupos para reduzir o congestionamento em áreas populares.

Criatura e criador

O turismo sempre determinou o grau de desenvolvimento das cidades. Hoje ocorre o contrário. Lugares como Disney World ou hotéis em Las Vegas foram construídos para receber turistas. Depois, passaram a abrigar eventos, e com a evolução se tornaram centros residenciais. Agora, ironicamente os moradores não querem ser incomodados por turistas. É o clássico caso da criatura que se volta contra o criador.

MAR DE GENTE – o turismo de massa torna insuportável a vida tanto para o turista como para o destino

6 Comments

  1. edgard leme disse:

    Parabéns Fábio, para nós que vivemos como agentes participantes do turismo, vemos que a dificuldade de ter esta visão é importante; tanto na forma de receber, como na forma de prestar um bom serviço. Infelizmente, a maioria deste universo trabalha sim com Over-turismo, que é uma prática aprovada por lei, que lá no final quem vai pagar é o próprio usuário, já tendo logo de saída, problemas com a opção do transporte a ser utilizado. Creio que deveria ser criado leis, que não permitisse tais práticas, mas que realmente fossem respeitadas, isso tanto para o transporte, bem como para os meios de hospedagem, conhecemos vários locais de turismo, que o contingente de visitantes é maior que o número dos nativos…..proporcionando pra todos uma prestação de serviço ruim, e consequentemente deixando quem nos visita em situação de desagrado total. abç

  2. FABIO R DEPRET disse:

    O Brasil ja sofre com over turismo, o advento de uma super operadora, vendendo turismo de massa para pequenos vilarejos e povoados é completamente contradicente e irresponsável, como por exemplo a chegada diaria de mas de 15 onibus de turistas da CVC em Trancoso como podem ver no IG @deuruimtrancoso

    • A responsabilidade final na minha opinião é das cidades que não controlam o fluxo de turistas. A operadora comercialmente atende a demanda que existe dentro da lei. Caberia a ela talvez uma reflexão sobre sua responsabilidade social.

  3. Raquel Coviello disse:

    A dois anos precisei sair de todas as redes sociais onde tinha Arraial do Cabo , isso porque como turista eu disse sobre o excesso de ônibus e vans, a falta de estrutura para receber esse número absurdo de pessoas, como consequência lixo nas praias, no mar, pessoas usando os cantos das praias como banheiro. Este ano vi que só piorou. É triste ver que a ganância faz com que as pessoas não se deem conta que se a beleza natural acabar , todos ficarão sem serviço. No dia em que fiz o passeio de barco , na praia da Marinha tinham mais de mil pessoas( tenho fotos para comprovar) nunca vi tanto lixo na baía entre as prainhas e praia da Marinha. Acorda povo. O sustento de vcs são as belezas naturais que estão cada vez mais sendo destruídas.

  4. Eliana Pinheiro disse:

    Achei a matéria perfeita , sou Paulistana mas moro em Ilhabela a 24 anos. Todos os anos no Réveillon e Carnaval tenho que sair da Ilha , pois se torna impossível viver aqui nesta época . Não tem comida nos supermercados ( fazemos suprimentos de guerra ) , o trânsito é totalmente parado e as praias nojentas , com o mar cheio de cocô. Uma Ilha com 40.000 habitantes não pode sobreviver com 120.000 habitantes nestas épocas nem durante todo o verão.

    • Fabio Steinberg disse:

      Eliana, realmente esta questao está se tornando um problema mundial,principalmente em lugares onde nitidamente o número de visitantes é muito superior ao de habitantes, tornado a vida dos moradores um inferno. Para voce ter uma ideia, lugares como Barcelona e Veneza já apresentam uma relacao de 20 turistas para cada habitante. No caso de Ilhabela, como voce indica, é apenas 1 para 3 – por enquanto! Abraços e obrigado por sua leitura dos meus textos. Abraços Fabio