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AVERSÃO À MULTIDÃO - O novo turismo terá que adotar formatos digitais que impeçam a aglomeração de pessoas

Já que a paralisia é inevitável, é tempo de observar e refletir. Por exemplo: você já reparou que é possível resumir o movimento atual do Turismo em três direções diferentes?

Vamos lá.

  1. GRUPO DA RETOMADA

A primeira movimentação engloba o que poderia ser chamado de Grupo da Retomada. Formada pela maioria de iludidos (ou ilusionistas?), olha para o céu em busca de milagre. Faz de conta que a solução da pandemia é uma questão de tempo. Reclama da sorte, sim. Mas ao mesmo tempo diz por aí que é só aguardar para que as coisas voltem um dia ao que eram antes.

EM BUSCA DO TURISMO PERDIDO – quem fala em retomada não entendeu que o mundo mudou e ainda sonha acordado.

Os integrantes deste primeiro grupo parecem não perceber (ou fingem) que, passada a pandemia, o Turismo jamais voltará a ser o mesmo. Durante a quarentena, mudaram-se os hábitos do consumidor. Por exemplo: com temor de novas pandemias, as pessoas criaram horror de serem contaminadas. Por isto, não vão mais aceitar situações antes normais, como se expor a aglomerações humanas.

Aviões, navios de cruzeiros, eventos e hotéis, só para falar de quatro mais evidentes, vão precisar de muita tecnologia e jogo de cintura para escapar de situações que obriguem hóspedes a se espremer em filas de check-in, almoços ou eventos.

Por isto, falar em simples retomada como se fosse o fim de chuva de verão e nada tivesse acontecido é, no mínimo, um desserviço ao Turismo.

2. OS INÚTEIS

O segundo movimento, ou melhor dizendo, anti-movimento, é formado por dezenas, senão centenas, de autoridades públicas federais, estaduais e municipais que gerenciam o turismo. Elas se tornaram inúteis durante a pandemia.

O que está fazendo esta gente ociosa há um ano, exceto receber seus proventos a cada mês? Sangram sistematicamente uma receita que faz falta para quem vive de verdade de sua produção para o Turismo.

PESCADOR DE AQUÁRIO – Autoridades do Turismo ocupam seu tempo na pandemia de forma inútil

Estes sanguessugas oficiais fingem-se de mortos, aguardando a marola passar. Não há notícias de que, entre eles, alguém usa o tempo terrivelmente disponível para planejar a mudança inevitável de cenário futuro. Ou então aproveitar o momento difícil para preparar os destinos para novos tempos que um dia certamente virão. Se tivessem um mínimo de consciência estes agentes públicos pediam exoneração de seus cargos.

3. TURISMO 2.0 

Felizmente há um terceiro grupo que já entendeu o que está ocorrendo. Sabe que o mundo de antes não tem retorno nem retomada. Por isto, ao invés de sonhar acordado, usa a inteligência e criatividade para enfrentar a crise e explorar oportunidades. Afinal, quando uma porta se fecha, outra se abre. É só saber olhar em volta.

São ideias, das mais simples às mais sofisticadas. Vão desde oferecer soluções de uso para as milhas acumuladas enquanto as viagens aéreas não voltam, até a criação de inéditos formatos de negócios.

Estes exemplos de novo comportamento, independentemente de seu escopo e tamanho, poderiam ser etiquetados como Turismo 2.0.

DUPLA IMBATÍVEL – A criatividade somada à digitalização conseguem revolucionar fórmulas obsoletas do Turismo.

Quanto às iniciativas mais complexas, têm em comum o uso intensivo de tecnologia nos seus negócios. Ou, para quem preferir usar um termo da moda, leia-se agora “traveltechs”. Os seus mais conhecidos antepassados são as paleontológicas agências de viagens.

Trata-se de uma revolução que envolve muito mais que embarcar tecnologia nas operações tradicionais. No novo modelo, a tecnologia é a própria operação, em forma de plataforma digital.

É preciso entender que a digitalização, que veio para ficar, subitamente ganhou asas muito mais amplas e possantes. Agora voa alto, consequência direta da pandemia.

E o consumidor? Forçado ao confinamento, viu-se forçado a usar a internet em todas as suas transações presenciais. Ganhou experiência no assunto. Pegou gosto. Incorporou o processo de tal forma que dele não abre mais mão.

Por isto, fica difícil imaginar que, terminada a pandemia, as pessoas voltem a se comportar no turismo como era antes. Quem insistir no velho formato corre o risco de enfrentar o mesmo destino trágico da centenária agência Thomas Cook.

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