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Desembarcar do magnífico MSC Preziosa no porto revitalizado do Rio de Janeiro é uma experiência inesquecível. Ainda mais se comparado ao pesadelo que foi o embarque um dia antes em Santos.

Enquanto no Rio o resgate urbanístico arrojado do local e seu entorno encanta o visitante, em Santos o terminal de passageiros provoca efeito oposto.
Cercado por uma 
área cinzenta e decadente, lembra uma flor que sobrevive por teimosia no meio do pântano.
Some-se um embarque disfuncional, o que é uma injustiça pela importância da cidade e hospitalidade do povo santista.

O que seria um simples embarque em navio, torna-se em Santos jornada indigesta. As redondezas são tão degradadas que poderiam ser usadas como set fantasmagórico para filme de terror. Áreas abandonadas e tomadas pelo mato se mesclam a caminhos esburacados, entre edifícios desocupados e em ruínas.

Diferente do acesso imediato e charmoso ao navio em frente como na maioria dos portos do mundo, em Santos é preciso entrar em um ônibus para chegar ao cruzeiro, atracado a até dois ou três quilômetros da estação de passageiros. Pombos sujos, trens de carga, guindastes, mar poluído, e uma favela em frente são companheiros involuntários do trajeto deprimente.

 Já no Rio de Janeiro é tudo diferente. O Porto Maravilha conseguiu ao mesmo tempo recuperar a infraestrutura urbana, transporte, meio ambiente, e patrimônios histórico e cultural da região. A reurbanização de uma área abandonada e perigosa de cinco milhões de metros quadrados trouxe não só melhor infraestrutura, mas também atraiu novos moradores e grandes empresas.

Em pouco mais de cinco anos, uma parceria público-privada deu sumiço em cinco quilômetros do Elevado da Perimetral, um monstrengo que desde a construção nos anos 70 acelerou a degradação do local, agora substituído por um túnel debaixo da terra. Além de contribuir para o clima de abandono, a antiga via aérea criava uma barreira visual entre a região histórica e a baía de Guanabara, escondendo museus, edifícios históricos e paisagens naturais. Destaca-se no resgate o Cais do Valongo, sítio arqueológico onde ocorreu o desembarque de africanos escravizados a partir de 1811.

No lugar da área portuária deteriorada, há agora um passeio público cheia de gente cercado por fachadas recuperadas de edificações antigas. O cenário é harmonizado por 15 mil novas árvores, 17 quilômetros de ciclovias, e um novo sistema de transporte inteligente. Trata-se de uma rede de 28 quilômetros de VLT (Veículo Leve Sobre Trilhos), que a estação de navios com os meios de transporte do centro do Rio – barcas, metrô, trem, ônibus, rodoviária e aeroporto.

O VLT possui também o mérito de resgatar o bonde, ilustre ícone do Rio do passado, agora em versão moderna e ecológica. Quase tudo é perfeito, exceto as máquinas de autoatendimento para compra de bilhetes, que estão em descompasso operacional. Lentas e complexas, confundem turistas e viajantes não familiarizados, mesmo com um staff que quer ajudar, mas é igualmente vítima de um modelo de cobrança disfuncional.

Nasceram ali perto o Museu de Arte do Rio e o Museu do Amanhã, este projetado pelo consagrado arquiteto espanhol Santiago Calatrava. Com design arrojado que lembra um navio, une ciência e linguagem artística através de recursos audiovisuais e jogos baseados em estudos científicos. O espaço possui auditório, lojas, cafeteria e restaurante, e está aos cuidados do IDG – uma ONG especializada em gerir centros culturais públicos.

Ao longo dos últimos anos, ouvimos apenas notícias negativas sobre o Rio que deu errado. O Porto Maravilha é um alento para quem tem saudade da cidade que foi sequestrada por uma sucessão de maus políticos e índices crescentes de criminalidade. Exemplo para o resto do Brasil, a obra prova que a criatividade e a capacidade de realização dos cariocas podem ter andado meio anestesiadas, mas felizmente estão vivas como nunca.   

*Viagem ao Rio de Janeiro a convite da MSC Cruzeiros

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