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INSISTIR, DESISTIR JAMAIS - este poderia ser o lema da indústria de cruzeiros diante dos desafios contínuos no Brasil

Em apenas seis anos, 55% dos passageiros de cruzeiros no Brasil simplesmente evaporaram. Os 805 mil viajantes de 2011 encolheram para 358 mil em 2017. Como consequência, os até 20 navios de temporadas anteriores, que chegaram a causar engarrafamento nos portos, hoje se restringem a sete.

Os cruzeiros no mundo

Mas isto foi só no Brasil. A indústria floresceu em todo o mundo. No ano passado foram 24,8 milhões de cruzeiristas, e este ano serão 25,8 milhões. Países que há pouco nem apareciam no mapa do setor, como China e Austrália, hoje abocanham mais de 15% do mercado. Os números impressionam. São 60 navios dedicados na China, e outros 36 na Austrália. Eles transportam 3,4 milhões de passageiros, ou seja, mais de oito vezes o volume brasileiro.

FESTA PERMANENTE – os cruzeiros caíram no gosto de todos os tipos de públicos e países

A indústria mostra sinais de expansão e saúde por todos os poros. Cresce a uma média invejável de 40% ao ano. Liderada pelos Estados Unidos, com quase 12 milhões de viajantes, a frota global de cruzeiros alcança 458 navios. Como se não bastasse, 90 novos foram encomendados, com um investimento de 55 bilhões de dólares. Quando navegarem, vão ampliar em 50% a capacidade para 750 mil leitos.

O que deu errado

Por que o Brasil ficou para trás na competitividade, e está jogando no lixo a oportunidade? Não foram os brasileiros que perderam o gosto por cruzeiros. Pelo contrário. Estima-se que 100 mil optam por embarcar anualmente em roteiros no exterior. Trata-se, portanto, de uma sangria de 25% de potenciais clientes, geralmente gente com grande poder aquisitivo. E que, pelo menos em parte, poderia alimentar os combalidos cruzeiros pátrios.

O que aconteceu com os cruzeiros no Brasil? “No Brasil vários motivos levaram à retração do segmento: infraestrutura, custos, impostos e regulações”, explica Marco Ferraz, presidente da CLIA, braço nacional da associação do setor.

PACIÊNCIA  – até em terminais de passageiros melhores como Rio e Santos a infraestrutura deixa a desejar

Por exemplo, a ausência de terminais, cais e piers de passageiros, ou sem condições para receber modernos navios, restringe os destinos atendidos. Ninguém aguenta mais ir e vir para os mesmos lugares, sai ano, entra ano, sabendo que a imensa costa brasileira permite tanta diversificação.

Assim, os cruzeiros no Brasil repetem quase o mesmo ambiente operacional enfrentado pela aviação comercial. O segmento encara custos 40% maiores que o resto do mundo e impostos extorsivos. Como se não bastasse, há uma regulação complexa, cercada por uma burocracia burra e ineficaz.

Estas distorções nascem da desinformação crônica de uma maioria de governos míopes, que não conseguem avaliar os benefícios do setor. Some-se a isto um protecionismo extemporâneo de alguns hoteleiros regionais, desavisados em relação a uma suposta concorrência desleal dos cruzeiros.

MIOPIA – a maioria dos governantes ainda não consegue enxergar como os cruzeiros podem alavancar a economia

Pois a experiência mundial mostra o oposto. Cada cidade de frente para o mar disputa a atração de cruzeiros pela sua capacidade de alavancar a economia. Todo mundo sabe que cada vez que um navio atraca, traz junto milhares de passageiros predispostos a gastar em passeios, alimentação, compras e serviços.

Impacto positivo

Um estudo da CLIA demonstra que cada 18 cruzeiristas gera um emprego. E que só a temporada 2015/2016 de cruzeiros no Brasil, apesar da baixa demanda atual de viajantes, trouxe quase R$ 2 bilhões para a economia brasileira.

Diante de tal cenário, qualquer empresário desembarcaria do país, em busca de melhores mares. Mas felizmente este não é o caso da indústria de cruzeiros. Apesar dos pesares, ela comemora um crescimento de 15% para a temporada 2016/2017. Com isto, sete navios – quatro da MSC, dois da Costa e um da Pullmantur – vão gerar 24 mil empregos no período.

“Há um potencial de demanda de até 25 milhões de passageiros, só para falar nas classes A e B acima de 35 anos”, estima Adrian Ursili, presidente da MSC Cruzeiros. A empresa italiana, presente há 20 anos no país, hoje lidera com 65% do mercado, que considera estratégico. Apostando que dias melhores virão, anuncia para a temporada 2018 / 2019 a vinda do MSC Seaview. Não é um navio qualquer, mas o maior e mais moderno da frota. Tão novo que só sai do estaleiro em junho do ano que vem.

NOVINHO EM FOLHA – mal saiu das pranchetas e o moderníssimo MSC Seaside já está escalado para o Brasil

A veterana Costa também tem um caso de amor com o Brasil, e apesar de reduzir a frota, manteve sua tradicional presença no país.

Resistência heróica

Resiliência. Este conceito emprestado da Física define a capacidade de se adaptar às mudanças, e se recuperar facilmente de situação desfavorável. Ajusta-se às maravilhas para definir o comportamento dos cruzeiros no Brasil.

RESISTÊNCIA – a indústria de cruzeiros aposta que o mau tempo no Brasil é provisório, e que melhores dias virão.

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