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Heróis anônimos cruzam os céus brasileiros a cada dia. Pilotos enfrentam desafios que vão de aeroportos como os paraenses de Belém, com sérios problemas de infraestrutura, e Marabá, com urubus que colocam em risco a segurança do voo. Quem perde é a economia de um Estado com imenso potencial turístico.De quem é a culpa? Da falta de uma articulação única, já que neste jogo cada um parece jogar sua própria bola.

Quando sobrevoava Belém, o voo 3454 da TAM, que partiu lotado de São Paulo no dia 27 de  abril, tinha tudo para cumprir o horário. Foi quando veio a má notícia pelo comandante Pandolfo. As chuvas que caíam sobre a cidade impediam o pouso, e por isto o avião sobrevoaria a região até que o tempo melhorasse. Uma hora depois, isto não aconteceu.

A aeronave se dirigiu, então, para Marabá, 554 Km ao sul do Estado. “Sem grooving e com pista molhada, é realmente arriscado pousar em Belém”, diz o consultor Adalberto Febiliano. Outra surpresa desagradável aguardava na cabeceira da pista de pouso: uma pequena nuvem negra formada por urubus. O avião arremeteu para pousar pelo lado oposto. Já no aeroporto da cidade, os passageiros tiveram que aguardar por condições meteorológicas favoráveis em Belém. Oito horas depois, o avião chegou ao destino. O mesmo tempo que levaria para Miami.

Afinal, o que aconteceu? Há uma somatória de incidentes que se tornaram triste rotina em diversos aeroportos brasileiros, e dos quais este caso emblemático que testemunhei é exemplo. Um aeroporto como o de Belém não deveria depender de bom tempo para operar.

Ali formam-se perigosas poças d’água causadas por obras mal sucedidas na pista, capazes de provocar aquaplanagem, diz o consultor Paulo Roberto Afonso. A Infraero diz que foram realizadas obras para instalação de ranhuras (grooving) em 400 metros da pista para aperfeiçoar o escoamento em local de frenagem das aeronaves, mas falta aprovação da ANAC. Mas se em Belém chove quase todos os dias, por que providências foram tomadas só recentemente? Em Seattle, sede da Boeing, chove diariamente, mas se dependesse das autoridades brasileiras a quase centenária fábrica teria fechado as portas há tempos.

Quanto aos urubus, o problema é crônico. A Infraero e ANAC mantêm o programa “Gestão do Perigo da Fauna em aeroportos” para minimizar a presença de aves em locais de pouso. A ANAC diz que realiza inspeções e exige ações corretivas quando necessário. Mas a coisa não é tão simples. Por trás da questão estão depósitos de lixo nas proximidades das pistas. A eliminação depende das autoridades dos municípios, que em geral se omitem. As aéreas, por serem concessão pública, sentem-se pouco à vontade para liderar o assunto.

Qual é o tamanho do prejuízo? “É preciso somar o combustível, maior custo da aviação no Brasil, e a hora da tripulação, entre outros fatores”. Quem responde é a ABEAR, associação das companhias aéreas, que promete informar em breve quanto custou este episódio.

Eis aí um retrato da aviação no Brasil. O jogo de empurra-empurra de responsabilidades reflete a falta de articulação e um interlocutor que represente os interesses do viajante. Enquanto isto, um Estado com potencial turístico fantástico como o Pará se limita a ver aviões repletos de viajantes de lazer e negócios passarem por cima de suas cabeças. Eles vão em direção a lugares com melhores aeroportos, como o Caribe ou Miami.

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