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Por que o TURISMO atrai incompetência e oportunismo?
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Da mesma forma que ninguém em sã consciência daria uma arma para um macaco se divertir, não é prudente aos homens brincar com assunto tão sério como turismo. No entanto, a mesma miopia crônica que domina a maioria dos governos no Brasil acaba de provocar novos e graves estragos ao setor. Desta vez não foi uma vítima qualquer, mas sim a cidade de São Paulo, capital econômica do país.

Numa piada sem graça, a São Paulo Turismo silenciosamente decepou as cabeças de cerca de vinte profissionais altamente qualificados de uma área que era justamente a sua própria razão de existir. Sim, acabou com os departamentos de turismo e promoção turística, que brilhavam há anos e com sucesso e reconhecimento.

 Sob o pretexto burocrático de buscar o equilíbrio nas contas, deu uma triste demonstração de desprezo ou desconhecimento crônico de um segmento que gera rendas expressivas para um destino. E por isto tem sido progressivamente explorado por dez entre dez destinos de países inteligentes – por menores que sejam. A decisão tomada é tão extemporânea como se uma fábrica de automóveis decidisse de repente encerrar o setor de motores e o integrasse à área de pneus em busca de sinergias impossíveis.      

Nunca é demais lembrar que o Brasil patina há décadas na faixa dos 6 milhões de estrangeiros que nos visitam por ano. É um número vergonhosamente baixo. A França é 14 vezes maior, a Turquia, seis vezes, o México, quatro, e mesmo que o minúsculo Vietnam, que não faz muito tempo sequer recebia turistas em larga escala.

A média mundial do turismo gera o equivalente a 9% do PIB global. Enquanto isto, no Brasil este número não chega à metade. É uma pena, pois esta é uma indústria que globalmente produz um em cada 11 empregos, e alcança US$ 1,3 trilhão em exportações – o equivalente a 6% do total no mundo. Os dados são da Organização Mundial do Turismo.

A sangria da empresa municipal paulistana que até há pouco foi referência principalmente em turismo de negócios, já ocorre há algum tempo. Ninguém parece que vê, ouve ou fala nada. Mas o primeiro sinal de que algo estava errado veio em setembro de 2015, quando um empresário bem-sucedido como Wilson Poit, então diretor da SP Turis, e que havia decidido como cidadão dar o seu quinhão de contribuição ao desenvolvimento do município, jogou a toalha e foi cuidar da vida.

Ele se cansou, entre outros fatos, com a insensibilidade da Prefeitura em não priorizar investimentos no Anhembi, tradicional ganha-pão de eventos de grande porte da cidade e que tem dado claros sinais de obsolescência. Não precisa dizer muito. Além de falta de infraestrutura, o equipamento sequer conta com ar condicionado para atender visitantes com um mínimo de conforto.

 Infelizmente muito coerente com o princípio equivocado de que turismo é sinônimo de despesa municipal, a gestão de plantão na SP Turis jogou uma pá de cal sobre o setor. Ao descontinuar áreas-chave, atingiu também, entre outras, duas de suas mais talentosas profissionais: Luciane Leite, diretora de Turismo, e Marisa Marrocos, gerente de promoções da empresa. Um estrago irreparável!

 Com isto, o melhor órgão público de turismo do país se equipara por baixo à maioria, onde interesses políticos prevalecem sobre as competências.

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