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VERGONHA - Por todo o planeta há registros de locais onde ocorreram atrocidades causadas por homens contra homens.

Viajar para lugares sombrios, marcados por mortes, desgraças, ou desastres em grandes proporções nem sempre significa morbidez ou mau gosto. Ao contrário. Esta modalidade, conhecida como turismo sinistro, traz benefícios tanto para o viajante como comunidades envolvidas.

Visitar locais com passado tenebroso, onde imperaram desumanidades ou acidentes naturais, não é só poderosa fonte de experiência. Por mais desconfortável que seja, representa uma legítima forma de conscientização. Significa resgatar e até se envolver pessoalmente com acontecimentos por vezes esquecidos ou minimizados. Conhecer suas causas e consequências ajuda a evitar que voltem a ocorrer.

LEIA  Turismo transformativo: O turismo evoluiu de buscar experiências à participação do viajante para seu crescimento pessoal e da comunidade visitada.    

Exemplos dramáticos

NEW YORk Onde haviam duas torres gêmeas destruidas por atos terroristas…

… hoje há um Memorial que registra o espaço onde se situavam que já recebeu 33 milhões de turistas

Infelizmente não faltam exemplos de episódios dramáticos que mancharam o planeta. Na Alemanha e Polônia, os campos de concentração nazistas. Na África do Sul, a ilha de Robben, onde Mandela ficou preso por 18 anos. Na Itália, os restos arqueológicos de Herculano e Pompeia, cidades vítimas de erupção do vulcão Vesúvio no ano 79. Na Rússia, os campos de trabalho forçado de Gulag, Sibéria, uma triste herança stalinista. Nos Estados Unidos, o Memorial 9/11 em New York, onde há 17 anos um ato terrorista derrubou duas torres e matou milhares de pessoas.

A fábrica de mortes em Auschwitz hoje é um museu para ninguém esquecer o que aconteceu lá dentro.

A lista é imensa. No Vietnam, há a cruel prisão de Hoa Lo, que serviu tanto para atormentar prisioneiros vietnamitas durante a colonização francesa, como mais tarde norte-americanos. Na Holanda, a casa em Amsterdam onde a menina Anne Frank, junto com familiares, se escondeu até ser presa e assassinada pelos nazistas. No Camboja os Killing Fields testemunham a matança irracional de mais de um milhão de cidadãos do país.

Os Killing Fields no Camboja testemunham um tempo em que a morte de um milhão se tornou algo banal.

O número de turistas que visitam estes locais impressiona. O blog Common Wanderer cita exemplos. O Memorial 9/11 já recebeu 33 milhões de pessoas desde 2011. O campo de concentração de Auschwitz Birkenau, 1,53 milhões. Os Killing Fields, mais de 210 mil desde 2014.

Passado e presente

Embora os tours dedicados ao turismo sinistro tenham se ampliado nos últimos 15 anos, não se trata de comportamento recente. Desde tempos ancestrais as pessoas namoram grotescamente ambientes de tragédia. Como, na Roma antiga, assistir às matanças entre gladiadores. Ou peregrinar por áreas onde ocorreram martírios devido à intolerância religiosa. Ou assistir a execuções públicas por mera diversão.

A partir do século 17 este comportamento mórbido ganhou um toque de civilidade. Sob o pretexto de verniz cultural e científico, as visitas ganharam status. Como conhecer o cenário da batalha de Waterloo, o que restou de Pompéia, ou ver loucos tratados em hospícios.

Felizmente hoje as coisas mudaram. A motivação para o turismo sinistro é um misto de curiosidade, experiência pessoal, e busca por respostas aos acontecimentos inexplicáveis. Não é errado se isto for feito com ética e respeito. Afinal, é preciso encorajar as futuras gerações a não ignorar episódios lamentáveis da história da humanidade.

Ao conhecer melhor um país, habitantes, e passado, destroem-se preconceitos e percepções equivocadas. Ao invés de esquecidos, os tristes exemplos passam a servir de inspiração de como resiliência e esperança enfrentaram revezes na busca por um mundo mais tolerante e justo.

O turismo sinistro existe para que as novas gerações jamais esqueçam os erros cometidos pelos antepassados.

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