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O Iberostar Grand Amazon, navio-hotel cinco estrelas da rede de resorts espanhola, desvenda a selva com total conforto, segurança, guias especializados e momentos de contato direto com uma natureza exuberante

O Porto de Manaus, ponto de atracação do navio Iberostar Grand Amazon não dá a melhor das impressões aos passageiros que embarcam para um cruzeiro de luxo. Nem de longe as instalações precárias lembram as confortáveis e funcionais estações internacionais que os turistas costumam frequentar fora do Brasil. O lugar é feio, sujo e barulhento. Os alto-falantes instalados em algum lugar indefinido do lado de fora do barco despejam, sem dó nem piedade, uma mesmíssima canção de Roberto Carlos. A tortura musical, que dizem fazer parte da rotina do local, parece zombar dos visitantes. Como um boas-vindas ao contrário, não dá trégua aos ouvidos. Felizmente trata-se de má experiência isolada, e que permanece em terra tão logo o visitante atravessa a ponte que o conduz ao interior do navio.

É que em Manaus, a exemplo do que ocorre com os demais portos brasileiros, os cruzeiros turísticos são tratados pelos governos como se fossem um subproduto supérfluo, e não como uma poderosa indústria que contribui diretamente para o desenvolvimento econômico e social de um país. Só mesmo a teimosia da companhia hoteleira Iberostar, não por acaso de origem tão espanhola como Don Quixote, é capaz de explicar a vontade férrea de enfrentar os moinhos insensíveis da burocracia estatal brasileira. E como prêmio pela tenacidade, a empresa conseguiu estabelecer em dez anos um projeto que se tornou o melhor cartão de visita do turismo na Amazônia.

Não é uma simples embarcação. Construído em um estaleiro de Manaus, lembra um hotel cinco estrelas flutuante. Com 82 metros de cumprimento e 16 metros de largura pesando quando vazio de 2 mil toneladas, e com calado de 2 metros, tem o casco em forma de balsa. Os dois motores com 1.200 HP possuem hélices que fazem o papel de leme, capazes de girar 360º através de sistema elétrico-eletrônico e hidráulico-pneumático. Estes equipamentos permitem manobrar em canais estreitos e atracar em portos sem ajuda de rebocadores.

O navio opera todos os dias durante o ano, cumprindo dois itinerários. O primeiro é um cruzeiro de três noites (sexta a segunda) pelo rio Solimões, enquanto que o segundo leva quatro noites (segunda a sexta) de navegação pelo rio Negro. Há a possibilidade de realizar o circuito completo, com duração de sete dias, englobando em um só passeio por ambos os rios. A principal diferença entre os dois programas é que as margens do rio Negro são mais habitadas. O resto é parecido. Com capacidade para até 150 hóspedes em 76 cabines, eles são atendidos por uma equipe orquestrada que chega a 80 profissionais, dependendo da temporada. Trabalham sob o comando atento do ex-enfermeiro Winfried August StraBer, um alemão que fala português perfeito e que um dia se apaixonou pela Amazônia e dela nunca mais saiu.

Na hora da partida, um pôr do sol deslumbrante no terraço sinaliza o compromisso da natureza de oferecer um clima de encantamento e aventura na selva nos próximos dias. A primeira boa surpresa é o jantar em confortável restaurante refrigerado com direito à vista que cerca o rio Negro, um cenário natural visto da principal base das refeições a bordo. Ali é servida uma comida caprichada e saborosa que combina pratos da região e internacionais cercados de uma boa diversidade de bebidas, dentro da mesma modalidade all inclusive encontrada nas demais instalações do barco.

Uma boa notícia para quem costuma enjoar em cruzeiros: diferente do que ocorre no mar, esta navegação fluvial é tranquila e quase imperceptível, sem sobressaltos ou balanços de ondas. A brisa agradável que refresca e afasta insetos intrusos sob um céu sobrecarregado de estrelas e as margens longínquas da floresta negra ao fundo completam a sensação de magia que fazem o homem urbano sonhar com grandes emoções.

Falando nisso, adeus celulares, internet, Facebook, e-mail. A partir deste momento a comunicação com o mundo exterior é precária ou desaparece, exceto na ponte de comando para os contatos operacionais. As cabines espaçosas, confortáveis e bem equipadas, todas com varandas, tornam-se o espaço reservado para o repouso reservado dos passageiros que se transformam em aventureiros das selvas.

O Iberostar Grand Amazon é a melhor demonstração de que turismo de aventura é sinônimo de esporte radical. O roteiro, sob medida para quem não pretende correr riscos, busca experiências enriquecedoras e diferenciadas combinadas a lazer. Sim, não se trata de um turismo apenas contemplativo, mas repleto de atividades adultas que não comprometem a segurança física.

Há passeios de lancha, que permitem penetrar na floresta alagada pelo rio seja dos igarapés (águas permanentes) ou dos igapós (apenas durante os períodos de cheias). Estes, com as copas das árvores e fauna que parecem ter sido pegos de surpresa pela enchente, proporcionam uma íntima convivência com a vida selvagem. Como estes momentos, segue-se um verdadeiro festival de situações inesquecíveis durante a travessia onde não faltam os requisitos básicos da civilização moderna, completada por serviços eficientes e conforto.

Na floresta, revezam-se excursões por diferentes horas do dia através de trilhas dentro da maior floresta tropical do mundo, entre rios, plantas, animais, belezas naturais, arquipélagos fluviais, visitas a comunidades ribeirinhas e indígenas e seus artesanatos, pesca de piranha, mergulho entre os botos cor-de-rosa, focagem noturna de jacarés, visita ao Museu do Seringueiro em uma sucessão de surpresas agradáveis que parece não ter fim.

Já no barco, além de piscina e fitness, aguardam bons drinques e gastronomia. Além de palestras diárias de especialistas sobre a história, geografia e segredos da Amazônia, há shows folclóricos da região. Mas a grande surpresa da navegação em ambos os roteiros oferecidos, ocorre em torno das 5h30 da manhã do último dia, com a visão única do encontro das águas escuras do rio Negro com as barrentas do Solimões. Vale a pena acordar mais cedo para assistir a este fenômeno natural em que as águas correm paralelas por seis quilômetros sem se misturar até formar o rio Amazonas.

Antes de pegar o avião de volta, compensa reservar um dia para Manaus. Há pelo menos dois pontos turísticos que valem a visita. Um deles é o Mercado Municipal, recém reformado, com sua vasta gama de peixes, frutos, temperos e produtos regionais. Já o Teatro Amazonas, inaugurado em 1896 e muito bem conservado, remete à riqueza da cidade durante o Ciclo da Borracha e oferece tours guiados. A capital conta ainda com bons restaurantes especializados em pratos preparados com peixes e produtos locais.

No final, fica a pergunta. Que outra rede hoteleira ou investidor, em pleno juízo, teria coragem de investir pesado em um hotel flutuante de luxo para cruzar diariamente a floresta amazônica? Na frieza dos números e bom senso, o projeto teria tudo para dar errado. Basta citar os principais problemas a enfrentar. Da falta de infraestrutura portuária ao incentivo zero por parte das autoridades turísticas brasileiras. Das dificuldades logísticas a obter profissionais preparados para atender à altura um viajante sofisticado. Dos altos custos da operação aos riscos inerentes a uma área isolada dos principais centros urbanos do país, pouco habitada e sujeita a incidentes naturais. E o pior: como garantir um fluxo contínuo de 150 passageiros interessados em ocupar as 76 cabines ao longo de todos os dias do ano para viabilizar o negócio?

Na contramão de todas as previsões catastróficas e fugindo à prudência recomendada pela sensatez, o Iberostar Grand Amazon deu certo. Passados dez anos de sua criação, o seu sucesso comercial é uma clara demonstração para o setor de que quando existe potencial e vontade tudo é possível. Mesmo diante dos maiores desafios ou crises, não há empecilhos capazes de destruir sonhos.

O projeto do Iberostar Grand Amazon é também uma oportunidade única para entender como a iniciativa privada dá aulas ao governo de como tirar proveito dos privilegiados cenários do Brasil e cultura única de seu povo.

Quem é a IBEROSTAR

Nem mesmo o vergonhoso porto em Manaus, que mistura carga e passageiros na mesma panela, foi capaz de arrefecer a visão e tenacidade do empresário espanhol Miguel Fluxá, fundador da rede Iberostar. Diante de contratempos e desestímulos, a empresa teimosamente aposta no Brasil e seu imenso potencial turístico, e neste projeto em particular.

O navio faz parte da rede de resorts IBEROSTAR Hotels & Resorts. Fundada em Palma de Mallorca em 1986, hoje possui 100 hotéis de 4 e 5 estrelas em 16 países ao redor do mundo.

O Grand Amazon, que começou a operar em 2005, foi o primeiro dos três empreendimentos do grupo no Brasil. Um ano depois, veio o Iberostar Bahia, seguido em 2008 pelo Iberostar Praia, também na região. Em todas as unidades a rede adota o sistema ‘all inclusive’, que incluem no valor da diária todas as despesas com alimentação, bebidas, inclusive alcoólicas, taxas e gorjetas.

 

Uma noite na Amazônia

Existe uma alternativa para quem está em Manaus por poucos dias e gostaria de fazer um test drive do que é embarcar no Grand Amazon. Trata-se do Night pass – Jantar do Comandante. Todas as quintas-feiras, de 19h à meia noite, o navio-hotel abre para um jantar de gala, no sistema all inclusive (jantar, sobremesa, bebidas alcoólicas e não alcoólicas, nacionais e importadas) com direito à navegação noturna. Além do jantar, a programação oferece show de música, danças regionais e utilização das instalações do navio, tais como o deck e o bar. O transporte de 10 minutos é realizado por uma lancha, que sai às 19 horas do píer do Hotel Tropical Manaus, em Ponta Negra.

 

Guias, um espetáculo à parte

Conhecedores profundos da região, bem-humorados e dominando diversos idiomas, os guias do Iberostar não são simples profissionais bem preparados que apresentam dados e fatos como papagaios treinados. Educados e atuando em equipe, amam o que fazem. São a alma do cruzeiro com suas expedições. Nelas, parecem imbuídos de algum espírito da floresta amazônica que deu a cada um a missão de deixar no visitante a melhor impressão possível da maratona.

O mais icônico deles é Piro. Nascido na região do Alto Solimões e com raízes indígenas, é guia na região amazônica há mais de 20 anos e não aparenta os 50 anos que diz ter. Contratado pela IBEROSTAR em 2006 como guia de selva, é fluente em português, espanhol e inglês, que diz ter aprendido com missionários americanos. Talentoso músico, ele se apresenta em shows a bordo como cantor de músicas nacionais e internacionais, além de tocar violão e as diversas flautas andinas.

O jornalista Fabio Steinberg viajou a convite da rede Iberostar

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