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Existe um tipo de passageiro que é o sonho de qualquer companhia aérea. É aquele que do momento que chega ao aeroporto até o destino não reclama de nada. Não costuma se atrasar, nem cria confusão a bordo.

Passageiro dos sonhos

Este viajante ideal sequer aceita serviço de bordo. Tampouco faz questão de um mínimo de conforto: topa viajar até no porão da aeronave. Só exige uma coisa: chegar ao final do trajeto na hora e local, como combinado. Ah, sim, este viajante não é humano. Atende pelo nome de bagagem.

Hoje em dia, é quase impossível dissociar a imagem de um passageiro da bagagem que sempre o acompanha. Isto vai do item mais leve, que viaja na cabine, ao mais pesado, que fará o trajeto no compartimento de carga.

MALA COM RG – Na aviação comercial não existe transporte de carga inteligente sem monitoramento da etiqueta

Não é pouca coisa. Dos quase 4 bilhões que embarcam anualmente em aviões, 82% despacham pelo menos uma bagagem. Somando, são 4,5 bilhões de volumes processados em voos por ano. Significa que em média voa menor número de passageiros que o de pertences.

Como se houvesse um percurso dentro de outro, há dois sistemas que funcionam em paralelo na viagem da mala. Um é mais conhecido: administra o percurso do passageiro do momento que faz a reserva até o desembarque. O segundo pode ser menos visível, mas não é menos complexo: gerencia a rota de cada mala despachada, do check-in do aeroporto de origem até a retirada na esteira do terminal de chegada.

No entanto, é no terreno das bagagens que o fantasma do extravio assombra por igual passageiros, aeroportos e companhias aéreas. Há razão para tanta preocupação. Além do inevitável desgaste junto aos passageiros toda vez que uma mala se perde, há um custo financeira alto. De acordo com a SITA, provedora de tecnologias de viagens, estes desvios custaram em dez anos U$ 27 bilhões. Quase seis em cada mil passageiros que voaram em 2016 se tornaram vítimas.

COMO CHEGAR LÁ? Sem tecnologia estas malas jamais iriam se encontrar com o dono no destino final

Apesar de visíveis progressos ano a ano, o problema persiste. Só em 2016 foram 22 milhões de malas que não chegaram aos aeroportos junto com os donos. Quase metade delas se perderam em conexões de voos. No mesmo ano recuperar e devolver a bagagem aos passageiros pesou U$ 2,1 bilhões aos cofres das companhias aéreas.

O estrago tende a se ampliar ainda mais quando a etiqueta de identificação se desprende da bagagem. Isto ocorre em 5% dos casos, e quando ocorre exige manuseio pessoal, com atrasos de até 25% no tempo das entregas.

Começa a maratona

Fazer com que tudo dê certo é por si uma tremenda epopeia. “Garantir que as bagagens cheguem ao destino junto com os passageiros é essencial para proporcionar uma excelente experiência de viagem, ao mesmo tempo que serve para manter os custos do setor sob controle”, afirma Barbara Dalibard, CEO da SITA.

LONGE DOS OLHOS – Nos bastidores dos aeroportos o milagre da tecnologia permite que a mala chegue ao avião certo.

Quando se trata de viagem da mala, o segredo do ofício consiste em revisar com absoluto rigor cada uma das etapas do processo. Isto inclui verificações, a maioria por sensores, seja no check-in, despacho, transporte, separação, arrumação das malas, carga e descarga, até a transferência na chegada.

No mínimo há quatro pontos de rastreamento obrigatórios onde a etiqueta presa à bagagem, deve ser monitorada. O primeiro é no check-in (despacho), no momento em que o passageiro transfere a bagagem para a linha aérea. O segundo ocorre no carregamento, quando é colocada na aeronave. O terceiro é durante a mudança de custódia entre os transportadores. Finalmente, na chegada, quando a bagagem é devolvida ao passageiro.

Tome-se o que ocorre no Terminal 3 do Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, o maior do país. Lá são processadas 35 mil malas diárias. Uma vez despachadas e etiquetadas, e cada vez mais pelo próprio passageiro, começa um extenso trajeto subterrâneo de cinco quilômetros de esteiras integradas.

ESTRADAS SUBTERRÂNEAS – no Aeroporto de Guarulhos 5 km de esteiras se estendem até conteiners próximos aos aviões

A bagagem rola no subsolo, debaixo dos pés e longe dos olhos dos passageiros, que caminham entre comércio, restaurantes, em direção à área de embarque. Durante o percurso, entram em cena diversas verificações que incluem desde scanners das etiquetas de bagagem, até raio X e tomógrafo para inspeções de segurança.

Janela virtual

Com informações sobre o passageiro, voo, destino, peso e tamanho, a mala ganha da companhia aérea uma espécie de identidade, também chamada de janela virtual. Ela contém os dados existentes no código de barras da etiqueta de bagagem. Essa informação que define o roteiro da bagagem, e determina qual esteira específica deve tomar em direção do voo definido.

NO CONTEINER – as malas começam a ser acomodadas em função do destino final e da classe economica do passageiro

A etapa seguinte da viagem da mala é a de segurança – uma novela à parte. Em Guarulhos há até cinco inspeções independentes para evitar que armas, explosivos, drogas ou demais conteúdos proibidos sejam embarcados. O primeiro é um raio X sem interferência humana. Se houver problemas há uma segunda verificação mais criteriosa por uma equipe especializada.

Diante de eventual reprovação a mala vai para uma terceira investigação, desta vez por um tomógrafo automatizado com imagens 3D. Se mesmo assim persistirem dúvidas a mala é aberta, sempre com a presença do passageiro. É algo diferente do que procedimento nos aeroportos dos Estados Unidos, onde a bagagem pode ser aberta à revelia, mesmo com o proprietário ausente.

O caminho para o avião

Vencida a etapa da segurança, a bagagem se dirige ao starter, também conhecido como carrossel. Funciona como um centro de distribuição que leva a mala a esteiras menores na direção da área onde o avião está estacionado. Ao chegar ao local designado para coletar as bagagens do voo específico a mala é direcionada a contêineres, onde é separada em função da classe do passageiro e tipo de conexão. Lacrados, os contêineres são levados ao porão do avião.

A CAMINHO DO AVIÃO – a mala se dirige ao porão da aeronave. Já é possivel acompanhar por smartphone todo o processo

Na chegada ao aeroporto de destino a mala percorre o caminho inverso.  As bagagens são descarregadas da aeronave e enviadas à esteira do terminal designado, ou então encaminhadas à conexão com outro voo.

O que vem por aí

Quando se trata de viagem da mala, a evolução não para. A próxima etapa é “emponderar” o passageiro para que ele mesmo possa rastrear pelo smartphone a via crucis de sua bagagem. Assim ele pode saber por onde andam seus pertences, desde a hora do check-in até a devolução, mesmo que o processo enfrente diversos aeroportos e companhias aéreas. Como eficiente babá eletrônica que revela à distância cada movimento do neném, a mala pode até viajar em separado, só que estará sob o olhar vigilante do dono graças à tecnologia.

MUVUCA FINAL  – no desembarque, entre empurrões e caras feias, passageiros e malas se reencontram.

* EXTRAÍDO DE MATÉRIA PUBLICADA NA REVISTA VIAGENS S.A, FEVEREIRO 2018

1 Comment

  1. Ninna disse:

    Sim, elas não reclamam de nada, etc e tal. Mas são maltratadas, pisoteadas rasgasdas e o pior, violadas muitas das vezes