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Também chamadas de digitais, cybercidades ou smarter cities, elas incorporam conceitos que envolvem uma grande metamorfose para se lidar com o crescimento populacional e com os problemas das megacidades. Segundo a Organização Mundial de Saúde, mais da metade do mundo mora hoje em metrópoles. Especialistas explicam como funcionam as “cidades espertas” e apontam as que já se adaptam aos novos tempos

Trânsito insuportável. Filas imensas. Poluição sonora, atmosférica e visual. Criminalidade crescente. Burocracia absurda. Clima imprevisível. Falta de liderança. Violência geral. Custo de vida alto. Apagões contínuos. Excesso de gente. Olhe em volta: reconhece esta situação? Pois você não está sozinho. Este cenário está se tornando padrão para todos que vivem em cidades que cresceram demais e com isto perderam a capacidade de organização, qualidade de vida e relacionamento humano. Não é para menos. A maioria dos 7 bilhões que vivem no planeta moram hoje em áreas urbanas.

Nem sempre foi assim. Há cem anos, só viviam nas cidades duas em cada dez pessoas. Já em 1990, como resultado da economia moderna, o número dobrou. Passados mais vinte anos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, mais da metade do mundo mora em metrópoles. Anualmente 60 milhões de pessoas se transferem das áreas rurais para os centros urbanos. Para 2050 projeta-se que 6.4 bilhões de seres humanos vão morar em cidades – ou seja, quase que o dobro de 2009, e que equivale a 66% da humanidade.

Pois pior que viver em área urbana é morar em metrópole superpopulosa. São Paulo que o diga. A capital paulista faz parte de um grupo de 28 megacidades do mundo com mais de 10 milhões de habitantes. Segundo a ONU, há 25 anos apenas 10 cidades viviam nesta situação. Somadas, nestas megalópoles habitam 450 milhões. A situação ainda deve se agravar. Nos próximos dez anos, só cidades chinesas devem receber 350 milhões de pessoas, mais que toda a população dos Estados Unidos e quase o dobro da brasileira. Para piorar a complexa equação, a vasta maioria da explosão urbana ocorre em países em desenvolvimento, justamente aqueles com menor capacidade de investimento em infraestrutura.

“Em apenas 15 anos, as cidades vão responder por quase 90% do crescimento populacional, 80% da criação de riqueza e 60% do consumo de energia”, alerta estudo do prestigiado Instituto de Tecnologia Massachusetts (MIT), uma das principais lideranças da ainda jovem Ciência das Cidades. O trabalho conclui: “Desenvolver melhores estratégias para a criação de novas cidades é um imperativo global”. Nem era necessário dizer isto. Com uma população urbana projetada para os países em desenvolvimento de mais de cinco bilhões de pessoas até 2050, não é difícil prever que, se nada for feito, o mundo vai encarar gigantescos caos urbanos.

Felizmente, governos, ONU, instituições de ensino e pesquisa como o próprio MIT, e empresas de tecnologia, como a IBM, CISCO e Microsoft, começam a dar as mãos para enfrentar este grande desafio do século 21. Trata-se de viabilizar a toque de caixa uma novíssima indústria, vital para a sobrevivência da Terra. E já nasce com imenso potencial econômico. A consultoria inglesa Arup estima que o mercado global para este nicho de serviços urbanos deve atingir 400 bilhões de dólares até 2020. São soluções inéditas que envolvem a integração de itens como a comunicação em banda larga, serviços interativos, uso de dispositivos inteligentes, comportamento criativo, até a disseminação do conhecimento coletivo para criar condições mais eficientes e colaborativos visando a solução de problemas e inovação. São iniciativas que vão dos sinais de trânsito sincronizados com o movimento dos veículos a serviços públicos oferecidos pela web. De fazendas verticais que aproximam a produção do consumidor à redução do desperdício de alimentos, inclusive com investimentos na mudança de hábitos alimentares. É tempo de conexão digital de tudo com tudo: edifícios, pessoas, cidades, atividades governamentais.

De tão recente, esta indústria urbana ainda não tem um único nome consagrado.  A maioria se refere a ela como “cidades inteligentes”. Outros cunharam o termo “ecocidade”. Há ainda quem adote a expressão “cidade sustentável”. A lista é ampliada ainda com termos como “cybercidade”, “cidade digital”, “comunidade eletrônica”, “cidade da informação”, “telecidade”, entre outros. Apesar da diversidade de nomenclaturas, seja lá como seja chamada, a missão desta nova frente é a mesma: enfrentar duas forças poderosas, que somadas têm um efeito catastrófico. A primeira batalha é interromper as ameaças ao meio-ambiente, reduzindo a emissão de carbono, com o uso mais eficiente dos recursos visando a plena sustentabilidade. A segunda luta é melhor administrar os complexos sistemas urbanos diante de seu dramático crescimento populacional, através do uso inteligente de tecnologias informação e comunicação. Por exemplo, repensar a forma de construir edifícios e infraestrutura, criar novos modelos para as instituições sociais e culturais, melhorar a qualidade de vida dos habitantes das cidades sem colocar em risco a ecologia e o meio-ambiente, e por aí vai.

A rigor, são cidades inteligentes aquelas que adotam, em maior ou menor intensidade, tecnologias digitais para aumentar o desempenho e bem-estar, reduzir custos e consumo de recursos, e, mais importante, conscientizar engajar os seus cidadãos neste esforço. Chicago, Boston, Barcelona e Estocolmo são ótimos exemplos deste novo conceito urbano. Nele, há uma preocupação adicional com fatores como transporte, energia, saúde, água e lixo. A consultoria Frost & Sullivan identificou oito conceitos diferenciados de gestão deste grupo. Eles incluem uma nova maneira de tratar de governança, energia, prédio, mobilidade, infraestrutura, tecnologia, saúde e cidadania.

Não existe hoje cidade inteligente que abra mão da tecnologia digital em suas atividades. Mas cuidado. Uma coisa é dizer que todas as cidades inteligentes são digitais. Outra é dizer que todas as cidades digitais são inteligentes. O que distingue umas das outras é a capacidade de resolver problemas, e não apenas usar recursos da comunicação eletrônica para oferecer melhores serviços ao cidadão. “A cidade digital estratégica pode ser entendida como a aplicação dos recursos da tecnologia da informação na gestão do município e também na disponibilização de informações e de serviços aos munícipes. É um projeto mais abrangente que apenas oferecer internet para os cidadãos por meio de recursos convencionais de telecomunicações ou incluir digitalmente os cidadãos na rede mundial de computadores”, afirma Denis Rezende, professor de mestrado e doutorado da PUC do Paraná e especialista em Gestão Urbana.

Evidentemente, tornou-se inviável parar a civilização e começar a reconstruir as cidades. Fica mais fácil partir para uma espécie de retrofit digital. A ordem é adaptar o que já existe, promover uma metamorfose urbana como a da lagarta que se transforma em borboleta. Este processo não é linear e imediato: envolve uma série de etapas que pavimentam o caminho para novos desafios. Neste sentido, cabe como luva a definição do Dr. Richard Miller, um dos líderes das ações de sustentabilidade do governo inglês: ”Cidade inteligente é aquela que consegue se transformar em cidade do futuro através do uso da tecnologia”.

Para isto, é o caso de seguir a recomendação de Rick Robinson, da IBM, especialista em tecnologias emergentes e que faz parte do programa Smarter Cities (Cidades Mais Espertas) da empresa. “Uma cidade do futuro cria condições para que cidadãos, comunidades, empreendedores e empresários façam o seu melhor. Criar uma infraestrutura mais adequada é apenas um desafio de engenharia. No entanto, tornar as cidades mais inteligentes é um desafio de toda a sociedade. E ninguém está melhor posicionado para entender esta transformação que aqueles que querem inovar”

As cidades mais inteligentes do planeta

Avaliadas sob o ponto de vista de fatores como inovação, cidade verde, qualidade de vida e governança digital estas são as melhores cidades, segundo o estrategista urbano Boyd Cohen:

1. Viena, Áustria

2. Toronto, Canadá

3. Paris, França

4. Nova York, EUA

5. Londres, Inglaterra

6. Tóquio, Japão

7. Berlim, Alemanha

8. Copenhagen, Dinamarca

9. Hong Kong, China

10. Barcelona, Espanha

A fórmula da cidade digital 

O Dr. Steve Hodgkinson, da consultoria Ovum, define quatro ingredientes indispensáveis no processo:

– Líderes que inspirem avanços da sustentabilidade econômica, social e ambiental

– Governos, indústrias, cidades e cidadãos que colaborem

– Cidades que alavanquem ideias e soluções que permitam fazer mais com menos

– Cidades que cultivem uma sociedade digital vibrante reforçando o capital social e a inclusão digital

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