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SEM OPOSIÇÃO - Por que se ouve um barulho ensurdecedor do silêncio da contestação em áreas tão vitais como o Turismo?

A unanimidade é por definição burra. Pela genial frase de Nelson Rodrigues, quando todos concordam com tudo, há algo errado. Contradiz a própria essência do pensamento saudável. Isto pode ocorrer por três razões principais. A primeira, falta de autocrítica. A segunda, apatia crônica. E a terceira: não expressar opinião seja por temer represálias, ou por oportunismo.

Pois a ausência de oposição no Turismo parece atingiu em cheio o setor. Quase não se ouvem críticas contundentes sobre a paralisia que acomete esta área há décadas. Não se vê ninguém expressar publicamente indignação com os erros, desafios não alcançados, e oportunidades perdidas. Como o que ocorreu durante a Copa do Mundo e Olimpíadas no país. É o oposto do que ocorre em áreas como política, economia, ou mesmo esportes, onde há uma gama de posicionamentos.

OMISSÃO – O que faz gente inteligente ignorar os sinais negativos e fingir que o problema não é seu?

Mais erros, menos conquistas

Ao invés de fazer a autópsia de projetos mal executados e aprender com os erros, os representantes atuais do Turismo se concentram em exacerbar conquistas e realizações (geralmente pífias). Há uma patológica fascinação por promover homenagens e premiações aos dignitários do setor. Estas iniciativas não teriam nada de errado se estivéssemos falando de Paris, New York, Veneza, Barcelona ou Dubrovnik – casos evidentes de sucesso.

Infelizmente, este tipo de vitória não ocorreu no Brasil. Até porque o país ocupa vergonhosa posição de lanterninha na atração de visitantes internacionais. Estagnada há décadas na casa dos 6 milhões de turistas, a nação carece de infraestrutura, segurança, divulgação, estímulo aos investimentos – só para falar em problemas mais prementes.

Chama a atenção no Turismo a inexistência de questionamentos ao atual modelo – ou melhor, a falta dele. Entra e sai ano; entra e sai autoridade; entra e sai titular de entidade de classe; e nada acontece. Como que anestesiada, a maioria da imprensa – seja especializada ou geral – observa, mas não registra a inanição, nem provoca discussão.

SUFOCO – É um erro buscar o controle da imprensa por anúncios, viagens e mordomias para garantir só boas notícias.

Omissão coletiva

 

Afinal, diriam os céticos, tudo e todos dependem da boa vontade oficial. São os governos que têm a chave do cofre das contribuições orçamentárias. Sem falar nas políticas públicas e legislação, que podem facilitar ou infernizar a vida de empresários e empreendedores.

Esta omissão coletiva viabilizou que o Turismo fosse sequestrado da iniciativa privada. Ao colocar em segundo plano a sua missão, que é estabelecer condições para seu desenvolvimento, o poder público pelo jeito resolveu também operar o Turismo. Na prática nada acontece sem seu aval e participação.

Basta olhar em volta. Não há evento do setor que não conte com a presença de no mínimo meia dúzia de autoridades. Vindas de todas as esferas, ocupam precioso tempo dos ouvintes com enfadonhos discursos. Com raras exceções, não entendem patavina do assunto. Por isto, enchem o vácuo com louvores óbvios à importância do Turismo para a economia, somado a baboseiras descartáveis. Sempre que podem, falam de suas conquistas pessoais para o setor. São quase sempre ações isoladas, dissociados de um planejamento sério, duradouro e consistente.

DILEMA – É melhor viver na segurança da gaiola ou correr os riscos da liberdade?

Falta de oxigênio

O Turismo brasileiro está atrofiado por falta de oxigênio. Perde espaço diário para outros destinos, muitos deles bem menos completos que o nosso. Aqui, não se trata de buscar culpados, mas sim soluções. E elas passam pela participação ativa e destemida de quem faz, e não de quem apenas fala. Não há progresso sem a livre ventilação de ideias e debates.

É preciso que empresários, profissionais e imprensa, juntos, desmascarem e afastem os oportunistas de plantão. Na omissão atual, maus profetas aprenderam a representar o Turismo, sem legitimidade ou conhecimento de causa. Felizmente há bons exemplos, tanto da iniciativa privada, como de órgãos públicos, mas são ainda exceções.

Está na hora do mercado escancarar com coragem o cenário paralisante, discutir soluções e metas, e (re)tomar o poder. O Turismo é um negócio altamente lucrativo para a economia dos países, que por isto hoje viraram ferozes concorrentes entre si. Não há meio termo: o Brasil tem que se profissionalizar neste campo.

Não existe mais lugar para amadorismo, demagogia e verborragia. Chegou a hora de privatizar o Turismo. E isto começa por canais de comunicação, abertos e independentes. Onde todos digam o que pensam, sem medo de consequências.

ABAIXO A MANIPULAÇÃO – não faz sentido quem sabe deixar-se controlar por oportunistas ou incompetentes de plantão.

 

8 Comments

  1. Antônio luiz Cubas disse:

    Caro Fabio!

    Parabéns! Estou ha mais de 40 anos na atividade, e nada concreto acontece .
    Um forte abraço
    Antonio luiz =Toninho

  2. José Cascão disse:

    Prezado Fábio, poucas vezes li um artigo sobre o turismo no Brasil escrito com tanta clareza e com tamanha coragem e lucidez. A impressão que tenho é que os atores dessa peça se portam da mesma forma que os de outros setores da economia brasileira, ou seja, de acordo com as conveniências de cada um em detrimento do fortalecimento do segmento. E numa alternância entre a bajulação e o mi mi mi. Além das tradicionais batalhas de egos e, nenhuma união entre as lideranças e sem se ir jamais ao âmago das questões. Esse índice de 6 milhões de turistas/ano, há anos, é vergonhoso. Somos muito simpáticos, mas pouco enfáticos quando se trata de mexer nas feridas.

  3. Sergio Rangel Barreto Luz disse:

    Meus cumprimentos..
    Mesmo um leigo fica a refletir sobre o que foi dito…

  4. Renan Augusto disse:

    Só para deixar claro, o turismo já é privatizado há muito tempo, no mundo todo, diga-se de passagem. Aponte aí um local no Brasil com planejamento e gestão totalmente pública do turismo…nao tem. Acontece que empresário não quer saber de debater melhoria no setor para o todo não, atuando com projetos públicos. Achar o contrário é fantasia sem nenhum pé na realidade. O setor privado está dando de ombros para um planejamento amplo e integrado com o Estado…empresário acha que o Estado é obrigado a garantir todas as condições para que o privado não tenha riscos. Enfim, seu texto até tem uma premissa interessante, mas o diagnóstico da situação me parece bastante equivocado.

  5. Nello Gentile disse:

    Parabéns Fabio,

    que estas suas palavras provoquem todos os envolvidos (administrações, empresariado e cidadães) a valorizarem o próprio território e a fazer melhor e mais pelo bem comum.. Que a imagem ao Turista seja de turismo profissional, organizado e sustentável.. .