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MIOPIA GERAL - não teve viva alma para enxergar e soprar o apito de aviso sobre a iminente derrocada da AVIANCA.

Como um devastador câncer galopante, a Avianca sucumbiu quase que à velocidade da luz. Neste processo de pouquíssimos meses, enviuvou o mercado, deixando um gigantesco rastro de perplexidade e prejuízo.

Como foi possível todo este processo ocorrer sem ninguém que atua ou acompanha o segmento aéreo se dar conta? Onde estavam agentes, consultores, mercado financeiro, agências e operadores de viagens, governo e imprensa? Não perceberam que uma das quatro maiores companhias aéreas do país estava se pulverizando em plena luz do dia?

Empresas de porte e com a visibilidade da Avianca não morrem de repente. Quando combalidas, apresentam claros sintomas de sofrimento, até desaparecerem. Foi assim com a VARIG, VASP, TRANSBRASIL, e outras que sumiram nas últimas décadas. Mas sem antes agonizar, aos gritos e em praça pública.

Fracasso

Embora cada uma das companhias aéreas que se foram tenha razões próprias para seu fracasso, um fator permeia a todas. Trata-se da incapacidade crônica de se adaptar às dinâmicas do mercado. No caso da Avianca, era de esperar que as coisas acontecessem de forma mais transparente. Gatos escaldados das experiências passadas, ao menos um dos stakeholders deveria captar sinais de alerta, como balanços no vermelho, e soprar o apito de perigo.

PERIGO À VISTA – Crises com a experimentada pela AVIANCA são visíveis e previsíveis, mas é preciso querer ver.

Francamente, só há duas explicações possíveis: incompetência ou cumplicidade. Segundo especialistas e executivos ouvidos, tudo indica que foram as duas coisas combinadas. Não faltam exemplos.

Quem conhece o setor aéreo sabe de sua instabilidade, pois alia altos custos operacionais com margens de lucro reduzidas. A exposição ao risco se amplifica até a perda total do controle. Como as súbitas variações do preço do petróleo e câmbio, já que a dívida das aeronaves é em dólar.

Perigo dos custos

Por isto, não dá para bobear com os custos, já que não há margens de erro. Qualquer pequeno desequilíbrio financeiro tende a virar um buraco sem fundo. No caso, enquanto as concorrentes faziam o dever de casa e se ajustavam a uma economia brasileira fragilizada dos últimos anos, inclusive reduzindo aeronaves e eliminando rotas, a Avianca seguia movimento contrário.

Há quem especule que a decisão de operar internacionalmente foi um passo maior que as pernas, tirando foco e fôlego financeiro da já combalida aérea. É verdade que ela apostava em produtos acima da média, como maior conforto e serviços, combinado a preços bem camaradas. Quem olhava de fora tinha a impressão que a empresa investia em ampliar o market share, mesmo que à base de prejuízo. Pelo jeito, estava vendendo barato para fazer caixa, um sintoma clássico de declínio de empresa em sérias dificuldades.

 

FIM DE FESTA – Muita gente lucrou com os tickets baratos, deixando a ressaca por conta do passageiro

Por que o alarme de incêndio não disparou no mercado? É que esta situação anômala virou uma tremenda “festa de babete”, principalmente para muitas consolidadoras, operadoras e agências de viagens. Ao aproveitarem o clima de fim de feira, elas se tornarem coniventes com o problema. Queira ou não, fizeram uma espécie de pacto sinistro, e se beneficiaram dos incentivos generosos e preços suicidas dos tickets da Avianca para aumentar suas vendas.

E o governo, por que não agiu? Afinal, a ANAC há anos recebe mensalmente das companhias aéreas um relatório operacional, inclusive com os resultados financeiros do período. O que a agência governamental fez com estes dados não se sabe. Mas com certeza o imenso déficit da Avianca estava lá, nos reportes com os débeis números apresentados.

Lições

Que lições a derrocada da Avianca oferece? A maior delas é que o mercado comeu mosca. Ao privilegiar o lucro imediato, deixou-se levar pela oportunidade de curto prazo, como se não houvesse amanhã.

O barato saiu caro. E quem pagou o pato foi, mais uma vez, o consumidor. Senão vejamos. Os voos da companhia ocupavam até 13% do mercado, chegando a 25% em algumas rotas em que era mais atuante. Com o desaparecimento da empresa, a procura nesses trechos superou de longe a oferta. Em consequência, o preço das passagens sofreu aumentos significativos.

Ninguém é inocente nesta história. Até a imprensa, ao patrocinar a demagógica política de bagagens gratuitas, tornou-se míope em relação à necessidade da boa gestão dos custos operacionais para assegurar a saúde financeira das empresas aéreas. E com isto, garantir o desenvolvimento sustentável da aviação brasileira.

NAUFRÁGIO – Sobraram poucas alternativas baratas no lugar de várias rotas mais movimentadas da AVIANCA

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