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PARECE MAS NÃO É - No Turismo tem muita autoridade por aí que diz ser leão quando não passa de gato.

O trabalho de jornalista de Turismo no Brasil torna-se árduo na hora de entrevistar autoridades do setor. Em geral são políticos de segunda grandeza, ou indicados, quase sempre desqualificados para a função. Talvez isto ocorra pela visão distorcida de que, como futebol, todo mundo achar que entende de Turismo. Assim, bastaria saber fazer mala e ter viajado algumas vezes na vida para virar especialista no assunto. O resultado é a triste realidade do país ser lanterninha no ranking turístico mundial.

Por isto, foi com ceticismo que aceitei entrevistar o atual Secretário de Turismo de São Paulo, Vinicius Lummertz. Afinal, estaria diante de quem, de desconhecido, em pouco tempo saiu de Santa Catarina para ganhar projeção nacional. Em menos de cinco anos liderou a Embratur, o Ministério do Turismo, e agora a posição no Estado mais importante do país.

FAMA INSTANTÂNEA – Há 5 anos ninguém tinha ouvido falar em Lummertz, nem sobre seu expertise em Turismo.

Torci para minha percepção estar desta vez equivocada. Detesto o papel de mensageiro de más notícias, e fico frustrado com a falta de resultados do Turismo no Brasil. Soube que o Secretário só poderia me atender por telefone. O que efetivamente ocorreu no dia 31 de outubro, durante um seu trajeto de carro.

A entrevista

A experiência foi desastrosa. Já na primeira pergunta, percebi que a conversa seria difícil. Pedi uma avaliação do turismo no país, e a comparação com os seus planos para o Estado de São Paulo. “Depende do que você chama de Turismo. Esta palavra engloba muitas coisas”, respondeu evasivamente Lummertz. Daí, ele passou a enumerar didaticamente os tipos de Turismo possíveis. E emendou para um bombardeio interminável de suas realizações, tanto no governo federal e estadual. Durante preciosos minutos não deu tréguas ao palavrório. Angustiado, eu não conseguia abrir espaço para interagir.

PALAVRÓRIO SEM FIM – Atrás do bombardeio de palavras pode se esconder um vazio de conteúdo.

A pesada chuva verborrágica só foi interrompida por providencial passagem do carro do Secretário por um túnel. Foi a deixa para eu registrar que sentia falta de um plano estratégico para agasalhar seu repertório de ações isoladas. Enfim, metas e métricas consistentes e transparentes, capazes de integrar a coleção de feitos – muitos não exclusivos de sua gestão.

Foi aí que o homem virou bicho. Em tom exaltado, disse que eu não tinha a menor ideia do que era uma estratégia. E que para entender bem era necessário apresentar o seu projeto em um Powerpoint.

Concordei que a conversa por telefone era incompleta, mas argumentei que a proposta partira de sua própria assessoria. E me propus a novo encontro, desta vez pessoal, para complementar as informações. Mas era tarde. A conversa já havia sido ferida de morte. E que foi decretada logo a seguir, sob pretexto de desligar para uma reunião.

Os problemas

Ao conversar com vários profissionais de diferentes setores que tiveram contato com Vinicius Lummertz descobri que minha avaliação não era ponto fora da curva. Há consenso de que ele é dono de ego exacerbado. Prolixo por natureza, enfrenta três problemas. O primeiro é a arrogância, disfarçada sob um tom professoral que o torna incapaz de ouvir o interlocutor. O segundo é uma provável limitação técnica sobre Turismo, e daí a necessidade de despejar palavras sobre o interlocutor para impedir aprofundamento das questões. E o terceiro é profunda antipatia, fatal para quem possui ambições políticas.

SOBERBA – Político antipático tem tanto futuro como dentista com cáries ou cantor gago.

Com bases em conceitos nada originais que associam o Turismo ao desenvolvimento econômico e geração de empregos, Lummertz pode até impressionar em um primeiro momento. Mas ao optar pela menção de ações isoladas sem clara associação a um planejamento maior, demonstra aptidão no máximo para executor. Enfim, quem nasce para sargento nunca chega a general.

Fim de linha

A pá de cal de nosso efêmero relacionamento chegou rápido. Por coincidência, no dia seguinte à entrevista interrompida, encontrei com o Secretário durante um Fórum de Turismo em Itu. Ao me apresentar pessoalmente, senti desprezo e intenção de livrar-se do contato à velocidade da luz. Ficou claro que nossa separação era definitiva. De certa forma, ambos nos sentimos aliviados. Quanto a mim, saí levando um triste souvenir: a decepção.

Tratar a imprensa como inimiga é típico de autoridades despreparadas para o cargo.

 

6 Comments

  1. Francisco Ancona Lopez disse:

    Sensacional, Fabio ! Tiro o chapéu para tua inteligência e franqueza. O mundo precisa disso.

  2. Antônio Carlos Baldow disse:

    Não é à toa que uma das maiores economias do mundo está lá na zona do rebaixamento em quase todos os quesitos que dependem da competência de seus gestores. O que conta é a politicagem, o “vou me dar bem”. Nenhuma afinidade, nenhuma aptidão, nenhum comprometimento com o que faz. E recebe pra isso. Parabéns pelo texto. Direto e contundente.

  3. Antônio Carlos Baldow disse:

    Parabéns pelo texto. Direto e contundente.

  4. Pelizzer disse:

    Muito interessante: o poder torna as pessoas inóspitas e hostis …..
    O bom gestor precisa ter humildade, bom senso, sensibilidade e muita informação-conhecimento e conteúdo…. e praticar a panto-iso-cracia, em algum momento!!!.
    No mais ficamos com o padrão do preceito francës: ” Laisser-faire et laisser-passer” ., é o que acontece com o nosso turismo no geral e Sampa na berlinda!!!!
    Um bom dia a todos!

  5. Pelizzer disse:

    Muito interessante: o poder torna as pessoas inóspitas e hostis …..
    O bom gestor precisa ter humildade, bom senso, sensibilidade e muita informação-conhecimento e conteúdo…. e praticar a panto-iso-cracia, em algum momento!!!.
    No mais ficamos com o padrão do preceito francës: ” Laisser-faire et laisser-passer” ., é o que acontece com o nosso turismo no geral e Sampa na berlinda!!!!
    Um bom dia a todos!

    • Muito obrigado pela sua resposta e coragem em expressar seu ponto de vista. Infelizmente a maioria das pessoas ou fingem que nada acontece ou nao comentam o que assistem ou leem por medo de represálias… enquanto isto, o turismo come mosca por conta da apatia e ocupação por oportunistas de plantão.