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Turismo: cadê a oposição?
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Premiações fajutas, dadas em larga escala e sem qualquer critério sério, só foram criados para ganhar dinheiro às custas de egos ingênuos. 

Uma gralha, com um queijo pendurado no bico, se preparava para devorá-lo do alto de uma árvore. Uma raposa, lá embaixo, de olho no alimento, resolveu bajular a ave. Começou por elogiar sua plumagem, superior à do pavão. Depois falou que para se tornar o mais belo dos pássaros só faltava à gralha cantar. Não sobraria espaço nem para o rouxinol, dizia a espertalhona. Envaidecida, a gralha resolveu soltar a voz. Ao fazer isto, deixou o queijo despencar de seu bico para o chão. A guloseima foi então imediatamente embocada pela raposa, que a seguir caiu fora.

Esta fábula de Esopo serve para lembrar que o mundo está cheio de gralhas, daquelas que nem têm plumagem linda, e muito menos sabem cantar bem. Muito pelo contrário. Apesar disso, deixam-se enganar por artimanhas e palavras lisonjeiras de espertas raposas da vida. Com isto, quando não banalizam suas eventuais legítimas conquistas, fazem papel de bobo. É que vaidade e soberba formam combinação tóxica.

A questão vem a calhar por conta da enxurrada de premiações que costuma acometer o ambiente corporativo. Áreas como o Turismo são particularmente suscetíveis a estas situações. O bom-senso alerta que há algo de muito errado nisto. Há duas explicações possíveis. Numa visão otimista, o setor de Turismo estaria experimentando um extraordinário e desproporcional número de gente brilhante, com sucessivos recordes de competência e criatividade. Ou então, o que soa como mais sensato, há exagero de reconhecimentos, distribuídos com fartura e sem qualquer critério. Seriam produzidos para alimentar inclusive gralhas que pensam que são pavões ou rouxinóis. Diante de tal multiplicidade, fica impossível separar a premiação honesta e merecida de mero caça-níquel que só objetiva enriquecer seus promotores.

Por que tanta gente inteligente e experiente ainda cai no conto dos prêmios picaretas e inúteis, produzidos em série, sem qualquer critério? Será que ninguém percebe ser vítima de golpe baixo, que só explora natural carência humana de buscar o reconhecimento?

Talvez isto se explique pela crescente despersonalização das atividades econômicas, onde a tecnologia tende a reduzir o espaço antes dedicado às relações entre pessoas. Mesmo assim, é assustador tanto marmanjo ser tapeado por espertalhões. Em troca de estatuetas que não valem o que pesam. Ou então de diplomas assinados por um joão-ninguém que se autodenomina “premiador-mor”.

Não precisa ser especialista no assunto para concluir que a indústria do Turismo no Brasil deixa ainda muito a desejar. Cada vez mais exportamos brasileiros para tirar férias no exterior. Somos incapazes de atrair mais visitantes internacionais ao país no ritmo necessário. Nós nos tornamos lanterninhas do mundo na categoria – e não é por ausência de atrativos, potencial e talentos.

Falta muito para fazer. Por isto é melhor evitar tantas comemorações irrelevantes. E redundantes, porque em geral são sempre os mesmos a ganharem troféus, sejam merecedores ou não. Perguntar não ofende: o que eles fazem com tantas geringonças inúteis, que só servem para ocupar espaço nas prateleiras, desbotar, e acumular poeira? Como ter certeza de que os prêmios ganhos foram merecidos ou não passam de cambalachos sem valor, nascidos de armadilhas tipo pega-trouxa?

O Turismo precisa menos destas bajulações individuais descartáveis. Para não cair na esparrela, o lema deveria ser “quem sabe faz, e que não sabe premia”. Submeter-se a tapeações que só exploram egos é ser conivente com o embuste. É fingir que tudo está bem, na contramão da realidade. Nestas embromações com verniz de seriedade não se busca o real reconhecimento de bons profissionais, mas apenas fazer todo mundo levar um prêmio para casa. Por isto, está na hora de parar de prestigiar estes ardis, verdadeiros sanguessugas que se alimentam das boas intenções e ingenuidade das vítimas.

 

 

 

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