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O Turismo no Brasil anda mal das pernas, mas no lugar de oposição, indignação e questionamento, só recebe concordância e autoelogios, por omissão ou apatia.

 

A unanimidade é por definição burra. Quando todos concordam com tudo, há algo errado. Contradiz a própria essência do pensamento saudável. Isto pode ocorrer por três razões principais. A primeira, falta de autocrítica. A segunda, apatia crônica. E a terceira: não expressar opinião seja por temer represálias, ou por oportunismo.

Pois a unanimidade parece que atingiu o Turismo do Brasil. Quase não se ouvem críticas contundentes sobre a paralisia que acomete o setor há décadas. Não se vê ninguém expressar publicamente indignação com os erros, desafios não alcançados, e oportunidades perdidas. Como o que ocorreu durante a Copa do Mundo e Olimpíadas no país. É o oposto do que ocorre em áreas como política, economia, ou mesmo esportes, onde há uma gama de posicionamentos.

Ao invés de fazer a autópsia de projetos mal executados e aprender com os erros, os representantes atuais do Turismo se concentram em exacerbar conquistas e realizações (geralmente pífias). Há uma patológica fascinação por promover homenagens e premiações aos dignitários do setor. Estas iniciativas não teriam nada de errado se estivéssemos falando de Paris, New York, Veneza, Barcelona ou Dubrovnik – casos evidentes de sucesso.

Infelizmente, este tipo de vitória não ocorreu no Brasil. Até porque o país ocupa vergonhosa posição de lanterninha na atração de visitantes internacionais. Estagnada há décadas na casa dos 6 milhões de turistas, a nação carece de infraestrutura, segurança, divulgação, estímulo aos investimentos – só para falar em problemas mais prementes.

Chama a atenção no Turismo a inexistência de questionamentos ao atual modelo – ou melhor, a falta dele. Entra e sai ano; entra e sai autoridade; entra e sai titular de entidade de classe; e nada acontece. Como que anestesiada, a maioria da imprensa – seja especializada ou geral – observa, mas não registra a inanição, nem provoca discussão.

Afinal, diriam os céticos, tudo e todos dependem da boa vontade oficial. São os governos que têm a chave do cofre das contribuições orçamentárias. Sem falar nas políticas públicas e legislação, que podem facilitar ou infernizar a vida de empresários e empreendedores.

Esta omissão coletiva viabilizou que o Turismo fosse sequestrado da iniciativa privada. Ao colocar em segundo plano a sua missão, que é estabelecer condições para seu desenvolvimento, o poder público pelo jeito resolveu também operar o Turismo. Na prática nada acontece sem seu aval e participação.

Basta olhar em volta. Não há evento do setor que não conte com a presença de no mínimo meia dúzia de autoridades. Vindas de todas as esferas, ocupam precioso tempo dos ouvintes com enfadonhos discursos. Com raras exceções, não entendem patavina do assunto. Por isto, enchem o vácuo com louvores óbvios à importância do Turismo para a economia, somado a baboseiras descartáveis. Sempre que podem, falam de suas conquistas pessoais para o setor. São quase sempre ações isoladas, dissociados de um planejamento sério, duradouro e consistente.

O Turismo brasileiro está atrofiado por falta de oxigênio. Perde espaço diário para outros destinos, muitos deles bem menos completos que o nosso. Aqui, não se trata de buscar culpados, mas sim soluções. E elas passam pela participação ativa e destemida de quem faz, e não de quem apenas fala. Não há progresso sem a livre ventilação de ideias e debates.

É preciso que empresários, profissionais e imprensa, juntos, desmascarem e afastem os oportunistas de plantão. Na omissão atual, maus profetas aprenderam a representar o Turismo, sem legitimidade ou conhecimento de causa. Felizmente há bons exemplos, tanto da iniciativa privada, como de órgãos públicos, mas são ainda exceções.

Está na hora do mercado escancarar com coragem o cenário paralisante, discutir soluções e metas, e (re)tomar o poder. O Turismo é um negócio altamente lucrativo para a economia dos países, que por isto hoje viraram ferozes concorrentes entre si. Não há meio termo: o Brasil tem que se profissionalizar neste campo.

Não existe mais lugar para amadorismo, demagogia e verborragia. Chegou a hora de privatizar o Turismo. E isto começa por canais de comunicação, abertos e independentes. Onde todos digam o que pensam, sem medo de consequências.

 

 

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