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BAJULAÇÃO - A velha prática da subserviência a Ministros despreparados para o cargo não fará o Turismo deslanchar.

Um marciano que aterrasse de repente no Brasil teria imensa dificuldade em entender por que um país com tanto potencial turístico é administrado por tamanha mediocridade.

E por que apesar dos evidentes resultados pífios, ao invés de criticar, os responsáveis pela operação do Turismo desdobram-se em louvores às autoridades governamentais. E que são, no mínimo, corresponsáveis pelo desastre.

Só que Turismo e bajulação não dão boa liga. Esta distorção da realidade, onde o Governo cobra, mas não é cobrado, produz no empresariado uma prática colateral perversa, conhecida por bajulação. Este puxa-saquismo institucionalizado costuma se manifestar em diversas ocasiões. Ocorre em geral quando as partes se encontram, em público ou ambiente fechado, entre apertos de mão, falsos sorrisos, e cumprimentos respeitosos.

Liturgia fajuta

Nenhuma destes encontros entre as partes tem a magnitude que a liturgia da troca de ministros de Turismo. Neste momento, tomados de uma espécie de amnésia coletiva, associações de classe e seus representantes esquecem suas diferenças e fraquezas, e se unem como nunca. Tecem elogios rasgados e agradecimentos intermináveis àquele que se vai. Mas esta lamúria é logo substituída por juras de amor eterno ao que chega.

SIGA O CHEFE? – Líderes cegos podem levar quem aceita passivamente sem questionamentos ao abismo

No Turismo, lideranças estatais fracas ou ilegítimas, em geral indicações puramente políticas, sempre se nutriram de adulações por parte de associações, que por sua vez tendem a se multiplicar como coelhos. A realidade demonstra que quem é incompetente, para se sentir poderoso, precisa de um reforço contínuo em forma de palavras e ações de (falso) reconhecimento e submissão.

No Brasil acabamos de assistir a mais uma repetição desta enfadonha cena. O ministro retirante da vez acaba de ser defenestrado da cadeira pelo Presidente da República. Como a maioria dos antecessores, deixa um rastro de nulidade na curta e descartável passagem pela área. Só que ao invés de indignação, o que se vê é novamente o casamento do Turismo com bajulação.

Trocando 6 por meia dúzia

Este senhor que se vai, por sinal com pendências na Justiça, recebe desproporcionais homenagens do chamado trade turístico – pleonasmo para juntar gatos pingados com agendas distintas e por vezes irreconciliáveis. O ex-titular recebe reverências, apesar do legado equivalente a zero.

Afinal, o que ele teria feito de tão extraordinário durante este período, cercado por terrível pandemia e absoluta ausência de turistas interessados em visitar o território nacional? Será que deixou ao menos um planejamento para um futuro mais promissor? Claro que não.

Por outro lado, o sucessor não poderia ser mais mal escolhido. Seu histórico de comentários infelizes, comportamentos esdrúxulos, e reduzida habilidade no acordeão é apenas motivo de chacota.

Aparentemente cegos, os representantes das dezenas de associações que falam em nome do turismo se unem em uníssono para prestigiar uma desde já anunciada administração pública desastrosa para o setor. Assim, nasce um monstro dicotômico e sem caráter. De noite, ri do ministro caricato, mas de dia o bajula.

Uma pergunta paira no ar sem resposta. Por que existem tantas associações que representam o Turismo, a maioria “chapa branca”, e nenhuma capaz de fazer oposição ao sofrível status quo? Não se costuma dizer por aí que toda unanimidade é burra?

Se este sistema adulador desse certo, o Brasil teria se tornado um dos principais polos de atração turística do mundo. Infelizmente a realidade ao longo dos anos demonstra o contrário. A crônica falta de crítica acabou por eliminar um saudável questionamento. Ao pasteurizar o pensamento por baixo, enfraqueceu o organismo. Ao adotar a mesmice como lema eliminou a capacidade de inovação. Onde falta reflexão, falta inteligência.

TURISMO ENGESSADO – Se as coisas vão mal das pernas e não existe oposição algo está muito errado.

Tempo de repensar 

Não está na hora de reavaliar o modelo desgastado e falido? Pois ele só vai começar no dia em que o empresariado do Turismo despertar para sua plena capacidade de autonomia e independência das amarras governamentais.

Isto se traduz em caminhar com as próprias pernas. Não se submeter a muletas oficiais, sejam elas financeiras ou comportamentais. Esta subordinação tem uma contrapartida: cobra altas taxas de acato e exige humilhante puxa-saquismo. Até porque em destinos onde o Turismo funciona bem, é o Governo que deve satisfações aos setores produtivos, e não o contrário.

3 Comments

  1. JOÃO NAGY disse:

    Voce tem toda razão a culpa é nossa do tal do Trade…! vou te mandar copis de duas cartas que mandei na epoca do Ministro que acaba de ser demitido, para ele e para um Deputado que se intitula ´representante do setor´ambas sem resposta , denunciei isso algumas vezes para os meus pares…silencio…o pessoal tem medo…não da para entender , esses senhores estão la para nos servir e não para nos os servirmos…mas …nos não aprendemos, so nos podemos culpar… abraço

    • Nagy, sei das suas boas intenções e excelente trajetória profissional em prol do turismo brasileiro. No entanto, como voce mesmo indica, na melhor das intenções acabou por escolher muito mal os destinatários das suas cartas. Foi como discutir ações contra o roubo de galinhas com a raposa. O Ministro que se vai dispensa comentários além dos já feitos no post acima. Quanto a Herculano Passos, trata-se de um oportunista que se aproveita das reconhecidas fraquezas da gestão do Turismo brasileiro para alavancar suas pretensões políticas, mas que nada fez de consistente pelo setor. Sabe como ninguém explorar egos das mediocridades que representam as instituições e associações do Turismo para se posicionar neste mercado marcado pela incompetência generalizada. Sobre ele, veja o que denunciei há um ano em relação um dos encontros anuais altamente picaretas que ele organiza. https://turismosemcensura.com.br/bofetada-em-itu/.

      Quanto aos incautos que teimam em acreditar nestas esparrelas que oferecem espaço para falar em eventos inúteis, assim como prêmios e reconhecimentos sem critério, sugiro ler outro texto meu: https://turismosemcensura.com.br/premiacoes-fajutas/

      Forte abraço
      Fabio

  2. MARCOS ZANI disse:

    Na minha opinião o MINISTÉRIO DO TURISMO deveria ser comandado por um colegiado com representantes das diversas associações (lista não limitativa) como por exemplo:
    ABAV – BRASTOA – HABID – RODOVIÁRIO – SINDETUR – entre outros que determinariam a política tanto para as empresas do setor de TURISMO EXPORTATIVAS como IMPORTATIVAS
    Não podemos esquecer que o TURISMO é uma estrada de IDA e VOLTA.
    Chega de se colocar políticos que não são nem empresários do setor.
    Este COLEGIADO teria uma relação de trabalho junto ao EXECUTIVO e LEGISLATIVO assim como com a IMPRENSA em GERAL : ESCRITA – FALADA – TELEVISIVA