VELHICE, UM PROBLEMA ATÉ PARA RECÉM-NASCIDOS

Surpresa! Mesmo que quem acabou de chegar começa a contar tempo de vida.

A leitura de Vida ao Vivo, de Ivan Ângelo, me despertou para uma questão, disparada tanto pelo título como pelo personagem principal, um idoso. De repente, percebi que também fiquei velho. Oficialmente entrei para a categoria a partir dos 60, mas com os anos o problema só se amplia. Não sei como foi possível isto me acontecer. Os anos escaparam sem me dar conta. Logo eu, que ainda me vejo com energia, saúde, recursos suficientes, mente ok, dotado de uma irresistível vontade de fazer não-sei-bem-o-que. O mundo está mudando, tento acompanhar, mas não consigo. De participante, virei espectador.

Olho em volta, busco exemplos de outros nesta situação. Uns abdicam de tudo e se dedicam apenas à família, mulher, filhos, netos. Outros se tornam contemplativos, viajam, observam a natureza, bichos e plantas, tiram fotos, assistem seriados em doses cavalares, acompanham notícias. Os funcionais usam suas energias acumuladas para compras da casa, consertos, cozinha, e são facilmente reconhecíveis empurrando carrinhos nos supermercados, sempre disponíveis para conversar sobre preços e qualidade dos produtos, o cotidiano que não interessa a ninguém, memórias de tempos de glória, filhos e netos. Há também os frequentadores de encontros de ex-funcionários, ex-alunos, ex-qualquer coisa, mas que tendem à auto extinção por razões óbvias. Os religiosos de ocasião são aqueles que se previnem ao colocar sua relação com Deus em dia. A lista de alternativas para administrar a velhice é interminável, e a cada dia surgem novas sugestões: praticar esportes, rever ou fazer novos amigos, escrever livro, meditação, passatempos, hobbies, ir a médicos, remédios e fortificantes, e por aí vai.

A verdade é que ainda não inventaram uma fórmula. Eis um problema que afeta a todos, inclusive recém-nascidos. O que existe são tentativas de adiar o processo, mas cedo ou tarde a conta chega. Os mexicanos costumam dizer que há mais tempo que vida. Até que soa bonito e edificante, mas não sei se resolve.